Mais de 200 mulheres disseram em alto e bom som: “Não é Não!” – Fotos: reprodução instagram
Denise Paro, especial para Guatá Com o lema de combate à violência contra as mulheres, o Bloco da Martinas saiu às ruas na neste sábado (10) de carnaval. Um coletivo de 230 mulheres desfilou com representantes da Patrulha Maria da Penha, Delegacia da Mulher e do Centro de Referência em Atendimento à Mulher em Situação de Violência – CRAM.
O bloco foi criado para combater casos de assédio no carnaval e chamar atenção para a luta contra o feminicídio e a transfobia. A proposta partiu de Valentina Rocha Virgílio que coordena o Coletivo Empoderamento Feminino Baque Mulher Foz.
Ela diz que a ideia surgiu após ouvir vários relatos de assédio e transfobia durante o carnaval. O bloco foi idealizado em pouco tempo e conseguiu bastante adesão.
A proposta do bloco, explica Valentina, além de chamar atenção para violência e sensibilizar os homens. “Esse é um movimento também para falar com os homens. Eles são parte fundamental dessa luta. Tem que incluir os homens porque são eles que cometem a violência”, diz Valentina.
Entre as bandeiras do bloco está a campanha Não é Não que trata do respeito ao corpo da mulher e o direito de escolha.
Durante o desfile, foram distribuídos leques informativos com frases de efeito de apoio à mulher, tatuagens temporárias com a frase Não é Não, absorventes gratuitos e preservativos masculino e feminino.
O nome do bloco é inspirado na uruguaia Martina Piazza Conde. Conhecida por ser atuante em discussões de gênero e na cena cultural de Foz do Iguaçu, é dela a frase “Mujer bonita es la que lucha”, que inspira o grupo. “Através da amizade com a Martina a gente sabe a grande militante e feminista que ela foi”, salienta Valentina.
Martina tinha 27 anos e cursava o último ano de antropologia na Universidade Federal da Integração Latino-Americana – UNILA e era apaixonada pelo carnaval brasileiro. Ela integrava o grupo Maracatu e fez sua última apresentação no carnaval dia 2 de março.
A estudante foi morta por Jeferson Diego Gonçalves no dia 3 de março de 2014, no período do carnaval. O corpo, com sinais de violência sexual, estava em um apartamento de amigos que estavam viajando e deixaram o imóvel sob responsabilidade de Martina. Jeferson foi preso e condenado a 18 anos de prisão.
Maykelle tem 24 anos e é estudante de Relações Internacionais:
“Eu entrei no bloco depois de ter conhecimento do movimento pelo instagram. Eu sou de Curitiba e lá sempre estive junto aos movimentos pautados na defesa das mulheres, no posicionamento de luta por igualdade e fim da violência.
Sempre gostei de somar nesses movimentos pois presenciei muitas cenas violência doméstica desde nova, então levar essa pauta para conscientizar é o mínimo que posso fazer.
Eu tenho esperança que nossa união chame atenção não apenas dos homens, mas também das próprias mulheres violentadas para que nunca se calem.
Eu acho que o ato de não silenciar perante as violências e os abusos é um grande passo para que os homens sejam punidos e com isso os atos diminuam. Eu espero que nossa voz alcance os homens que não respeitam nossos corpos e vejam que não ficamos mais caladas, nós nos posicionamos e principalmente fornecemos apoio às mulheres violentadas a não se calarem também.
O fato de termos o apoio da Delegacia da Mulher faz toda diferença, para que as mulheres sintam-se protegidas ao denunciar e buscar justiça.
Aos poucos vamos nos posicionando até o ponto que não tenha outro caminho aos homens sem ser nos ver como iguais e merecedoras de absoluto respeito.”
Os crimes de feminicídio, que pela lei começaram a ser qualificados a partir de 2015, crescem em Foz do Iguaçu. Segundo dados da Patrulha Maria da Penha, em 2023 um total de 7 mulheres foram assassinadas e outras 7 sofreram tentativas de homicídio, em Foz do Iguaçu.
Em 2022, foram registrados 3 feminicídios na cidade.
Os crimes contra a mulher podem ser denunciados por meio dos seguintes números:
Polícia Militar – 190 Central de Atendimento à Mulher – 180 Delegacia da Mulher – (45) 3521-2150
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