Cachoeiras majestosas foram eliminadas para a construção da Itaipu Binacional – foto reproduzida em P&B: Arquivo do Senado Federal
De H2Foz / Por Paulo Bogler A construção da Itaipu Binacional teve impacto social e ambiental profundo na Região Oeste, proporcional à magnitude da obra. É o caso das Sete Quedas, em Guaíra, que foram submersas, desapareceram, para a criação do lago da usina.
A pauta figurou em várias reportagens do jornal Nosso Tempo. Em uma delas, o periódico editado em Foz do Iguaçu mostrou o acampamento de protesto e adeus às belezas naturais, que reuniu cerca de 10 mil pessoas, vindas de várias cidades e até de outros países, durante três dias.
A imersão junto à natureza foi em julho de 1982; três meses depois, em outubro, na manhã do dia 13, foi a submersão. Não fosse isso, hoje a região teria três belas quedas de água com enorme potencial turístico: Sete Quedas, Cataratas do Iguaçu e Saltos Monday – em Presidente Franco, no Paraguai.
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O Nosso Tempo reportou que foram três dias de artes, de música a teatro, missa ecológica, palestras, debates e até uma procissão ao último salto. Uma passeata estava programada para as ruas de Guaíra, o que foi impedido pelo Exército naqueles anos derradeiros da ditadura militar.
A reportagem ouviu vários participantes do protesto em forma de despedida. “Jamais a natureza conseguirá formar outra beleza igual a esta, e os homens destroem em pouco tempo em nome do progresso que eles tanto falam”, criticou o guairense Luiz Alberto dos Santos.
Pessoas de várias cidades do Brasil e de outros países participaram do protesto e despedida – foto: Reprodução/Nosso Tempo
“Olha, moço: o que eu tenho a dizer é que as Sete Quedas são obras de Deus”, disse Marco Aurélio de Moraes, morador de Niterói (RJ). “O que vai destruí-las é obra do demônio”, esbravejou o carioca, que participou do acampamento pelas Sete Quedas.
A tristeza tomava conta das pessoas. “A festa está bonita, mas eu não consigo ficar alegre. Dói no coração da gente ver eles destruírem essa maravilha que a natureza levou milênios para construir. Os que idealizaram isto certamente têm coração de pedra”, avaliou o estudante Luiz Rogério, de Curitiba (PR).
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A eliminação das quedas, é sabido, rendeu um poema de Carlos Drummond de Andrade. Menos conhecida, porém não menos indignada, é a música composta por Marcão, morador de Guaíra, que o jornal Nosso Tempo reproduziu um trecho na matéria:
Venham, venham todos conhecer A maior das maravilhas Que vai desaparecer
Adeus Sete Quedas Rainha da beleza universal Este ano lamentamos na avenida O seu último carnaval
O adeus às cachoeiras, arco-íris e cataratas Será para nós uma eterna serenata ÔÔÔ o que Deus criou O homem sepultou Nas águas da ilusão.
As Sete Quedas, formadas no Rio Paraná, formavam o maior conjunto de cachoeiras do planeta em volume de água. Eram 19 saltos, com até 40 metros de altura, em sete grupos. A força do rio fazia jorrar vazão média entre sete e nove vezes maior as águas das Cataratas do Iguaçu.
As cachoeiras faziam parte do Parque Nacional das Sete Quedas, em área de 144.000 ha. A unidade foi criada em 30 de maio de 1961, pelo presidente João Goulart, e foi extinto em 4 de julho de 1981, com o Decreto n.º 88.071, no então governo de João Figueiredo.
Acesse a edição do Nosso Tempo com a reportagem
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