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“Quando uma mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela.”
“Se você é livre em um sentido político mas não tem comida, que liberdade é essa?”
“A democracia que exclui o povo negro não é uma democracia”
“O feminismo é a ideia radical que sustenta que nós, as mulheres, somos pessoas.”
“A política não se situa no polo oposto ao de nossa vida. Desejemos ou não, ela permeia nossa existência, insinuando-se nos espaços mais íntimos.”
“Não acho que tenhamos outra alternativa senão permanecer otimistas. O otimismo é uma necessidade absoluta.”
“Não aceito mais as coisas que não posso mudar, estou mudando as coisas que não posso aceitar.”
“Se não nos unirmos a nossos irmãos e irmãs indígenas na luta urgente para salvar o planeta, todos os nossos movimentos por justiça e liberdade terão sido em vão.”
“Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista.”
“Quando falamos da História do povo negro, sempre nos lembramos da violência inenarrável da escravidão, mas não devemos nos esquecer de que nas lutas pela sobrevivência e pela superação da violência sempre estiveram presentes a criação de alegria, de beleza e de prazer. Estes são os presentes do povo negro para o mundo.”
A norte-americana Angela Davis tornou-se uma figura conhecida na década de 1970, por suas obras e sua militância política contra o racismo.
Nascida em 1944 no Alabama, um dos estados mais racistas do sul dos Estados Unidos, Angela Davis, hoje com 76 anos, é uma professora e filósofa socialista conhecida por sua militância em prol dos direitos das mulheres e contra a discriminação social e racial, principalmente em relação à população negra.
A filósofa cresceu em uma cidade com segregação racial, em que havia muitos casos de ataques a casas e igrejas de bairros negros, e onde a presença de membros da Ku Klux Klan era constante.
Antes de ser reconhecida como uma das figuras mais relevante da luta pelos direitos civis nos EUA, Angela Davis começou a trilhar seu caminho como intelectual aos 14 anos, quando participou de um intercâmbio colegial que destinava bolsas de estudos para alunos negros sulistas em escolas integradas no norte do país.
Essa passagem a levou a estudar filosofia na Universidade de Brandeis, em Massachussets. Pouco tempo depois foi para a Alemanha realizar pesquisas para o mestrado na Universidade da Califórnia, em San Diego. Seus estudos facilitaram o contato de Davis com o comunismo e o socialismo teórico.
Sua atuação na militância começou na década de 1960, quando passou a militar ativamente entre os movimentos negros e feministas que estavam impactando a sociedade norte-americana naquele período. Angela Davis começou como filiada do Student Nonviolent Coordinating Committee (Comitê Conjunto de Não Violência dos Estudantes) e logo depois passou a atuar entre movimentos e organizações políticas como os Panteras Negras.
Em 1969, acabou sendo demitida do cargo de professora de filosofia da Universidade da Califórnia justamente por sua ligação com o partido comunista americano e com os Panteras Negras.
Prisão e notoriedade – Em 1970, Angela Davis tornou – se a terceira mulher a constar na lista dos dez fugitivos mais procurados pelo FBI (Departamento Federal de Investigação da polícia dos Estados Unidos).
Entre as acusações atribuídas a ela pelas autoridades constavam: conspiração, sequestros e homicídio. As acusações surgiram devido à suposta ligação de Angela Davis com uma tentativa de fuga do tribunal do Palácio de Justiça do condado de Marin, localizado em São Francisco.
Naquele período, Davis participava ativamente dos esforços dos Panteras Negras para conseguir o apoio da sociedade a três militantes que estavam presos: George Jackson, Fleeta Drumgo e John Clutchette, que eram conhecidos como os “Irmãos Soledad”, após terem sido presos na Prisão de Soledad, em Monterey.
Em 7 de agosto, o irmão de George, Jonathan Jackson, invadiu o julgamento de seu amigo James McClain, então acusado de ter esfaqueado um policial, junto com dois rapazes armados para ajudar na tentativa de fuga do réu. Jonathan rendeu os presentes no julgamento e conduziu o juiz, o promotor e membros do júri para um veículo que os esperava do lado de fora. Já na van, Jackson gritou que deveriam soltar os irmãos Soledad ate as 12h30 em troca dos reféns.
Houve uma perseguição policial e um tiroteio se seguiu, custando a vida de Jonathan e de um dos seus amigos. Mas, antes disso, eles já haviam matado o juiz Harold Haley com um tiro na garganta enquanto o promotor raptado levou um tiro da polícia, ficando paralítico. A investigação do caso revelou que a arma utilizada por Jonathan estava registrada no nome de Angela Davis.
Após a sua prisão ser decretada no estado da Califórnia e com o FBI a perseguindo, Davis fugiu e desapareceu por dois meses. No entanto, foi alvo de uma extensa investigação coberta pela mídia. No final, acabou sendo presa em Nova Iorque em outubro de 1970.
O julgamento de Davis foi realizado, recebendo grande atenção da mídia, e ajudou a colocar em destaque a discussão sobre a condição da população negra na sociedade norte-americana.
O julgamento se estendeu ao longo dos dezoito meses seguintes com manifestações diárias pedindo a libertação de Angela Davis do lado de fora do tribunal e por diversos pontos dos EUA, sendo transmitidos pela televisão. Ao final do julgamento, Davis foi inocentada de todas as acusações e libertada. Mas a partir daquele momento seu nome foi lançado para o mundo e ela aproveitou para ampliar as discussões sobre as pautas que defendia.
Atuação antirracista – Angela Davis chegou a receber homenagens de John Lennon e Yoko Ono, que lançaram a música ‘Angela’, e dos Rolling Stones, que gravaram a canção ‘Sweet Black Angel‘, em que abordavam problemas legais e pediam a libertação da ativista. Em 2012, a cineasta Shola Lynch dirigiu e lançou o documentário ‘Libertem Angela Davis’, em que trata deste período de sua trajetória.
Seguindo os passos de seus colegas, os ativistas radicais Huey Newton e Stokely Carmichael, Angela Davis embarcou para Cuba, onde ficou por um curto período. Chegando ao país, Davis foi recebida pela população negra cubana em um comício de grande massa, e quase não conseguiu discursar devido ao entusiasmo do público, em um período em que a expressão racial era rara no país.
Em 1975, Angela Davis voltou ao centro de um embate polêmico. O romancista russo Aleksandr Solzhenitsyn a acusou de hipocrisia por sua simpatia pela União Soviética, uma vez que o regime comunista omitia as condições dos presos políticos.
De acordo com ele, Davis havia recebido cartas de presos políticos que pediam socorro e a ajuda dela, mas a reposta da ativista foi: “Eles merecem o que tiveram. Que continuem na prisão!”.
Davis chegou a se candidatar como vice-presidente dos Estados Unidos para as eleições de 1980 e 1984, compondo a chapa de Gus Hall, presidente do Partido Comunista Americano, mas a votação deles foi irrisória.
Ela continua até hoje sua carreira política através da literatura e de palestras, sendo vista em espaços universitários e manifestações políticas. Atualmente, é professora emérita do departamento de estudos feministas da Universidade da Califórnia, a mesma instituição que a demitiu por seu posicionamento político e ativismo.
É autora de obras que abordam as condições carcerárias nos EUA, a disputa de classe, o racismo, o papel da mulher negra em uma sociedade desigual e racista. Entre suas obras mais conhecidas estão: ‘Mulheres, raça e classe’ (2016), ‘A liberdade é uma luta constante’ (2016) e ‘Mulheres, cultura e política’ (2018). .
Referências: PAIVA, Vitor. “A vida e a luta de Angela Davis, desde os anos 1960 até o discurso na Marcha das Mulheres nos EUA“. Publicado no site Hypeness em 2017. REDAÇÃO. “Angela Davis“. Publicado no site Geledés em 2009. VÁRIOS AUTORES. “Angela Davis“. Wikipédia. MARTINELLI, Andréa. “Angela Davis: ‘Quando as mulheres negras forem finalmente livres, o mundo será livre’“. Publicado no site Huffpost Brasil em 2019. .
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