. Esa boca (Montevideanos, 1959)
. Su entusiasmo por el circo se venía arrastrando desde tiempo atrás. Dos meses, quizá. Pero cuando siete años son toda la vida y aún se ve el mundo de los mayores como una muchedumbre a través de un vidrio esmerilado, entonces dos meses representan un largo, insondable proceso. Sus hermanos mayores habían ido dos o tres veces e imitaban minuciosamente las graciosas desgracias de los payasos y las contorsiones y equilibrios de los forzudos. También los compañeros de la escuela lo habían visto y se reían con grandes aspavientos al recordar este golpe o aquella pirueta. Sólo que Carlos no sabía que eran exageraciones destinadas a él, a él que no iba al circo porque el padre entendía que era muy impresionable y podía conmoverse demasiado ante el riesgo inútil que corrían los trapecistas. Sin embargo, Carlos sentía algo parecido a un dolor en el pecho siempre que pensaba en los payasos. Cada día se le iba siendo más dificil soportar su curiosidad.
. Entonces preparó la frase y en el momento oportuno se la dijo al padre: “¿No habría forma de que yo pudiese ir alguna vez al circo?” A los siete años, toda frase larga resulta simpática y el padre se vio obligado primero a sonreír, luego a explicarse: “No quiero que veas a los trapecistas.” En cuanto oyó esto, Carlos se sintió verdaderamente a salvo, porque él no tenía interés en los trapecistas. “¿Y si me fuera cuando empieza ese número?” “Bueno”, contestó el padre, “así, sí”.
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La madre compró dos entradas y lo llevó el sábado de noche. Apareció una mujer de malla roja que hacía equilibrio sobre un caballo blanco. Él esperaba a los payasos. Aplaudieron. Después salieron unos monos que andaban en bicicleta, pero él esperaba a los payasos. Otra vez aplaudieron y apareció un malabarista. Carlos miraba con los ojos muy abiertos, pero de pronto se encontró bostezando. Aplaudieron de nuevo y salieron —ahora sí— los payasos.
. Su interés llegó a la máxima tensión. Eran cuatro, dos de ellos enanos. Uno de los grandes hizo una cabriola, de aquellas que imitaba su hermano mayor. Un enano se le metió entre las piernas y el payaso grande le pegó sonoramente en el trasero. Casi todos los espectadores se reían y algunos muchachitos empezaban a festejar el chiste mímico antes aún de que el payaso emprendiera su gesto. Los dos enanos se trenzaron en la milésima versión de una pelea absurda, mientras el menos cómico de los otros dos los alentaba para que se pegasen.
. Entonces el segundo payaso grande, que era sin lugar a dudas el más cómico, se acercó a la baranda que limitaba la pista, y Carlos lo vio junto a él, tan cerca que pudo distinguir la boca cansada del hombre bajo la risa pintada y fija del payaso. Por un instante el pobre diablo vio aquella carita asombrada y le sonrió, de modo imperceptible, con sus labios verdaderos. Pero los otros tres habían concluido y el payaso más cómico se unió a los demás en los porrazos y saltos finales, y todos aplaudieron, aun la madre de Carlos.
. Y como después venían los trapecistas, de acuerdo a lo convenidó la madre lo tomó de un brazo y salieron a la calle. Ahora sí había visto el circo, como sus hermanos y los compañeros del colegio. Sentía el pecho vacío y no le importaba qué iba a decir mañana. Serían las once de la noche, pero la madre sospechaba algo y lo introdujo en la zona de luz de una vidriera. Le pasó despacio, como si no lo creyera, una mano por los ojos, y después le preguntó si estaba llorando. Él no dijo nada. “¿Es por los trapecistas? ¿Tenías ganas de verlos?”
Ya era demasiado. A él no le interesaban los trapecistas. Sólo para destruir el malentendido, explicó que lloraba porque los payasos no le hacían reír.
(FIN – 1955)
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. O entusiasmo de Carlos por circo já vinha de muito tempo. De dois meses talvez. Sim, dois meses podem representar um longo, insondável processo quando sete anos são toda a extensão de nossa vida e o mundo dos adultos ainda nos aparece como uma abundância de coisas indecisas divisadas através dum vidro fosco. Seus irmãos mais velhos já tinham ido duas ou mesmo três vezes ao circo e já imitavam com minúcia as graciosas desgraças dos palhaços e as contorções e equilíbrios dos parrudos. Também os colegas de escola já tinham ido e não perdiam a oportunidade de se rirem envaidecidos à lembrança desse golpe ou daquela pirueta.
. Carlos não se dava conta de que eram exageros destinados somente a ele, a ele que não podia ir ao circo porque seu pai lhe tinha por muito impressionável, achando que o menino podia comover-se demasiadamente ante o risco inútil que corriam os trapezistas. No entanto, Carlos sentia como que uma dor no peito sempre que pensava nos palhaços. Cada dia lhe parecia mais difícil suportar a curiosidade de poder vê-los com seus próprios olhos.
. Assim, na primeira oportunidade, decidiu falar com seu pai, não sem antes haver preparado com cuidado a pergunta. .
– Não teria… – ele disse, cauteloso. – Não teria um jeito de eu ir algum dia ao circo?
. Quando se tem sete anos, toda frase mais ou menos longa acaba parecendo simpática, de modo que o pai se viu obrigado primeiro a sorrir, depois a explicar-se. .
– Não quero que vejas os trapezistas – disse. .
Ao ouvir a explicação do pai, Carlos se sentiu verdadeiramente a salvo; ele não tinha interesse algum pelos trapezistas. .
– E se eu fosse embora antes de entrarem os trapezistas? – inquiriu. .
– Bom – pensou o pai. – Neste caso sim. .
Com a anuência do pai, a mãe comprou duas entradas para o sábado à noite. Foram. .
De saída, apareceu uma mulher vestida numa malha vermelha, a equilibrar-se sobre um cavalo branco. Ele esperava os palhaços. Aplaudiram-na. Depois surgiram uns macacos que andavam de bicicleta. Mas ele esperava os palhaços. Outra vez aplaudiram. Apareceu então um malabarista. De início, Carlos arregalou os olhos, mas não tardou muito a encontrar-se bocejando. Novos aplausos, fim do ato. Agora sim – os palhaços! .
O interesse de Carlos então não podia ser maior. Eram quatro os palhaços, dois deles eram anões, dois grandes. Um dos grandes deu uma cambalhota, bem igual àquelas que seus irmãos imitavam. Um dos palhaços anões se enfiou entre as pernas de um dos grandes, e este de imediato lhe deu um sonoro tapa no traseiro. Quase todos os espectadores riam agora, e alguns meninos, mais atrevidos, já se adiantavam aos palhaços, representando-lhes as facécias antes mesmo de eles as realizarem. Os dois anões agora se entrançavam na milésima versão de uma rixa absurda, enquanto o menos cômico dos grandes os estimulava a chegarem às vias de fato. Foi então que o segundo palhaço grande, que sem sombra de dúvidas era o mais cômico de todos, acercou-se das grades que limitavam o picadeiro, e Carlos o pôde ver assim, próximo de si, tão próximo que lhe foi possível distinguir a boca cansada do homem, sob o riso pintado e fixo de palhaço. Por um instante o pobre artista, voltando o rosto para a plateia, viu aquela carinha assombrada e lhe sorriu, de modo quase imperceptível, com seus lábios verdadeiros. Mas já os outros três palhaços estavam concluindo o ato, e o palhaço mais cômico foi correndo unir-se a eles para as cacetadas e saltos finais. Agora todos aplaudiam com entusiasmo, mesmo a mãe de Carlos.
Como na sequência entrariam os trapezistas, para cumprir o combinado a mãe tomou Carlos do braço, e ambos foram embora. Agora sim, ele tinha visto o circo, como seus irmãos e os colegas da escola. Sentia, porém, o peito vazio, não se importando com o que diria no dia seguinte. Seriam então por volta das onze da noite, e porque suspeitasse de algo errado, a mãe de Carlos lhe trouxe até a zona iluminada de uma vitrine. Passou-lhe devagar, como se não pudesse crer, a mão nos olhos, perguntando em seguida se ele estava chorando. Carlos não disse nada.
– É por causa dos trapezistas? – ela quis saber. – Tu querias ver eles, meu filho?
Não era nada disso. Que absurdo! Que lhe importavam os trapezistas!? Então, para derribar o mal-entendido, explicou-lhe que chorava sim, mas porque os palhaços não o faziam rir.
Nota:
Mario Benedetti, “Esa boca”, in: Montevideanos. 3ª ed. México: Editorial Nueva Imagen, 1980, pp. 41-42. (Primera edición uruguaya: Montevideo, 1959). Conto de 1954.
Tradução: Conrado Abreu Chagas
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