(F0t0: Arquivo Pessoal da cineasta)
Há quatro anos, Naná Prudêncio criou a Zalika Produções e decidiu viver do audiovisual. A empresária e documentarista irá lançar o seu segundo filme: ‘Pandemia do Sistema’, com estreia online no dia 4 de agosto, às 19h, na página do portal Alma Preta, no Facebook.
Após a exibição, haverá um debate com a participação confirmada de Douglas Belchior, da Uneafro Brasil, Luana Vieira, gestora executiva do projeto sócio-cultural Comunidade Pagode Na Disciplina Jardim Miriam e Raimunda Boaventura, entrevistada no filme.
O média-metragem traz relatos e histórias de apoio entre vizinhos e vizinhas e de pessoas que foram ajudadas durante a quarentena. Aborda aspectos como o racismo, o desemprego, a insuficiência no atendimento de saúde nesses territórios e como todos esses elementos, juntos, resultam em uma fórmula genocida.
Segundo estudos da Rede Nossa São Paulo durante a pandemia, os distritos com menor renda média familiar mensal têm 2,7 vezes mais óbitos por Covid-19 do que os distritos que concentram mais renda. Além disso, os territórios com maior concentração de população negra também são os que apresentam maior índice de mortes decorrentes da doença.
Com uma produção independente, Naná atuou como roteirista e diretora. Do início da quarentena até o fechamento do filme, ela registrou e acompanhou ações em regiões como Sapopemba (Jd. Elba, Favela do Rio Claro, Ocupação Vila Dandara, Fazenda da Juta, Favela do Promorar); Sacomã (Heliópolis); Brasilândia; Capão Redondo (Favela da Godoy); Cidade Ademar e Pedreira (Ocupação Morro dos Macacos, Jardim Mata Virgem, Vila Joaniza, Dorotéia e Pantanal).
Nós, mulheres da periferia: Como nasceu a ideia do filme ‘Pandemia do Sistema’?
Naná Prudêncio: Quando comecei a ir nas paradas de entregas de cesta básicas, meu parceiro Nego Marco assumiu a Cufa (Central Única das Favelas) Taboão e a gente já tava entregando as fitas. E um dia, voltando de uma ação, a gente falou: não é só isso. Eu me senti rasa, voltei pra casa mal e pensei: o que eu sei fazer? Eu faço foto, faço vídeo e posso usar a minha força assim. Agora é a hora de voltar pro meu povo e devolver isso. Mas não queria ficar falando de um negócio temporal. Porque percebi que o problema da pandemia não era temporal, era atemporal. Era: ‘ganhei a cesta, mas eu nunca tive um gás’. Tá ligado? Era: ‘ganhei o produto de higiene, mas eu não tenho o rodo’. Sabe? Tipo, era uma parada que não veio com a pandemia. E eu precisava falar sobre isso.
NMP: E qual foi o foco narrativo do documentário?
NP: Quando eu chegava na favela era assim: a liderança é o irmão ali, é o outro irmão ali, é a irmã ali. E vereador? Não tem vereador, não tem empresa, não tem Estado, não tem Planalto. Aqui é favelado cuidando de favelado. Então, a ideia foi mostrar essas pessoas que são voluntárias ajudando o povo, mostrar essas pessoas que estão sendo ajudadas e o quanto esse país é assassino de todas as formas, né? Não é só a arma que colocam na nossa cara, na cara dessas mães de favela. Na cara dos filhos dela. É a falta de comida dentro de casa. São várias ideias que eles – o Estado – fazem para apunhalar mesmo. E você vê que é. Mano, só em São Paulo a Cufa tá cuidando de 1.500 favelas. Isso dá quase 500 mil pessoas. Você acha que o governador e o prefeito não sabem que essas pessoas existem? O intuito do Pandemia era mostrar que existem essas lideranças e existem essas pessoas que precisam ser ajudadas. E pela primeira vez, consegui que essas pessoas falassem de uma forma que elas não iam falar com a TV Globo, por exemplo.
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