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Dura Ação, poema de Roberta Estrela D'Alva
Dura Ação, poema de Roberta Estrela D'Alva
21 de março de 2022
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Dura Ação
Não adianta esmurrar a ponta da faca
Não adianta lutar como um guerreiro de Esparta
E exibir a cicatriz como prêmio da guerra
Ser a pedra que estilhaça o vidro da janela.
O grito, o rosnar, a absoluta beleza
A absoluta razão, a absoluta regra, a absoluta pureza
O mais perfeito entendimento, a precisão, a destreza
O ouvido absoluto, a nota certa, a pureza.
A perfeição vinda de um ser imperfeito é imperfeita
Uma mentira, um arremedo, uma imitação mal feita
E a rigidez, a dureza, toda dedicação para consegui-la
É o mais precioso tempo perdido em tentar contemplá-la.
Mas sou forte, sou viga, sou aço
Assim sei viver, é como me acho
Seguro, controlo, retenho, não vou
É o que reconheço, é o que tenho, o que sou.
Subindo a escada que desce
Desfiando o tecido que tece
Vendo um bebê na criança que cresce
Indo dormir quando o sol aparece.
Ai, que assim me quebro
Ai, que assim me arrebento
Ai, que assim continuo fingindo e pretendendo
Ai, me ensina a ser flor.
Quero ser rio, ser fonte, correr
Fazer sustentável em minha presença a leveza do ser
Quero brincar, florescer, coração
Quero meus pés em contato com o chão.
E se machucar, com um assopro sarar
Sem ver que dá certo, confiar confiar
E rir muito mais e pouquinho chorar
E do lago, pro rio, do rio, pro mar.
Dissolver as duras paredes que construí com músculos, areia e cal
E suavemente tornar maleável a dureza do metal
Retirar das flechas-palavras o veneno letal
Abrir mão do sempre certo, do sempre perfeito, do ideal.
Correr o risco de sentir
Receber em meus braços, acolher, abrir
E quem sabe assim com as armas no chão
Poderei a mim finalmente entregar o perdão.
Poderei a quem devo pedir o perdão
Poderei calmamente aceitar quem eu sou
Quem eu fui, quem virá, e saber pra onde vou.
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Roberta Estrela D’Alva (1978- ) é atriz, pesquisadora, produtora cultural e poeta brasileira
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