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(*)Texto de Carlos Luz – Revista Escrita 2 (2006). Atualizado em 5 de maio de 2023.
. Filho de um farmacêutico e uma dona de casa, o menino Mario de Miranda Quintana aprendeu a ler tendo como cartilha o jornal porto-alegrense Correio do Povo. Permaneceu em Alegrete, sua cidade natal, até 1917, onde trabalhou na farmácia da família e completou seus estudos primários. De lá, foi para o Colégio Militar de Porto Alegre, em regime de internato, onde começou sua produção literária. Em 1925, entrou no setor de literatura estrangeira da Livraria do Globo, então uma das mais ativas editoras do país. Em 1929, começou a escrever no diário gaúcho O Estado do Rio Grande e no ano seguinte já estava publicando seus poemas na Revista do Globo e no jornal Correio do Povo.
. A revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas, entusiasmou o jovem Quintana que foi para o Rio de Janeiro como voluntário do Sétimo Batalhão de Caçadores de Porto Alegre, retornando à capital gaúcha, seis meses depois.
. Entre A Rua dos Cataventos, publicado em 1940 e Sapato Furado, de 1994, deixou uma vasta bibliografia poética, mas também teve incursões na música e no teatro.
. O poeta nunca se casou e o hotel onde passou seus últimos anos de vida, hoje abriga a Casa de Cultura Mário Quintana. Morreu em 5 de maio de 1994 aos 88 anos. Pouca gente notou sua morte, pois o país ainda estava de luto pela perda do ídolo das manhãs de domingo, o piloto de Fórmula Um, Ayrton Senna, que morreu quatro dias antes. Isto não deve ter abalado Quintana, pois sobre a morte já havia escrito: a morte é a libertação total: a morte é quando a gente pode, afinal, estar deitado de sapatos.
. Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas… Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade.
. Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro – o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu… Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! sou é caladão, introspectivo. Não sei porque sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros?
. Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante cinco anos. Note- se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Érico Veríssimo – que bem sabem (ou souberam) o que é a luta amorosa com as palavras. ” Texto escrito pelo poeta para a revista IstoÉ de 14/11/1984, disponível no site da Casa de Cultura Mario Quintana www.ccmq.rs.gov.br
Biografia Era um grande nome – ora que dúvida! Uma verdadeira glória. Um dia adoeceu, morreu, virou rua… E continuaram a pisar em cima dele. (M. Quintana, Caderno H)
. O poema essa estranha máscara mais verdadeira do que a própria face (M. Quintana, Caderno H)
. Cataratas do Iguaçu
Os rios são caminhos mais antigos que a redondeza da terra.Eles descem horizontes seguem sozinhos no ar.
E a bela asa em pleno vôo, entre o partir e o chegar, sem se importar com fronteiras. Mas como se há de parar?
(“Água, os últimos textos de Mario Quintana”)
. Cuidado A poesia não se entrega a quem a define. (M. Quintana, Caderno H)
O Profeta diz a todos: “eu vos trago a Verdade”, enquanto o poeta, mais humildemente, limita-se a dizer a cada um: “eu te trago a minha verdade”… (Fragmento de “Carta”, M.Quintana, Caderno H)
Ser poeta não é dizer grandes coisas, mas ter uma voz reconhecível dentre todas as outras. (“A Voz”, M. Quintana, Caderno H)
.Usina de Itaipu Como um riso trancado o rio explode numa gargalhada de luz, calor, energia! Parece até mágica do homem da Usina.
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