Renata e Júlia na Unioeste – campus Cascavel. A universidade pública aproximando sonhos de gerações diferentes – Fotos: Victor Hugo Tadioto
Alunas dos cursos de Biologia (bacharelado) e Fisioterapia, respectivamente, ambas foram admitidas pelo Provare. “Foi um presente nas nossas vidas”.
Renata deixou o Rio de Janeiro e veio conhecer Cascavel, em 2012, instigada para conhecer André, hoje seu marido. Dois anos depois, trouxe os filhos. Além de Júlia, é mãe de João Vitor, de 25 anos. A mudança mudou a vida de Renata, que hoje tem a família unida, conquistou casa própria e tem muitos planos para o futuro.
Nesse especial para o Dia das Mães, elas contaram um pouco de como é ser mãe e filha, estudantes da mesma universidade, não negaram os desafios encontrados e toda uma luta para integrar o seleto dos que alçam a graduação. “Para mim voltar a estudar foi muito emocionante. Eu fiquei 28 anos sem estudar e agora volto e estudar na mesma Universidade da minha filha é uma alegria sem tamanho. Não dá nem para expressar. Agora é dedicação para terminar o curso, disse, emocionada”, conta Renata.
Júlia está no segundo ano de Fisioterapia e Renata é caloura de Biologia, no Campus de Cascavel. Assim, ambas vão tecendo sonhos para o futuro e dizem que Cascavel e a Unioeste abriram um campo para uma vida de mais qualidade e saúde. “Eu conheci e gosto de Cascavel. Aqui eu encontrei mudança de vida. Aqui eu encontrei segurança”, relembra Renata.
Renata começou a trabalhar aos 12 anos em sua cidade de origem, São Gonçalo. Lá foi empregada doméstica, cozinheira, técnica de enfermagem, cuidadora de idosos e a assim, lá no Rio de Janeiro ou, em Cascavel, sua rotina é de luta diária e grande dose de persistência.
Entre tantas histórias dentro de uma mesma narrativa, Renata afirma que o momento mais importante de sua vida foi saber que estava grávida dos filhos e o termo “explodindo” de felicidade veio com o nascimento dos dois. “A minha vida mudou. Tudo mudou. A luta aumentou, mas ser mãe deles é a maior alegria da minha vida”.
Júlia, antes de falar olha para a mãe e dá um sorriso de esgueiro. “A relação de mãe e filha às vezes é de conflito também. Mas é muito amor envolvido. Minha mãe foi muito bem aceita entre minhas amigas e hoje somos um grupo só”.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística, 11 milhões de mulheres cuidam de seus filhos sem parceiros no Brasil, destas, 12% (em torno de 1,3 milhão) são universitárias, sendo um quarto delas negras. No caso de Renata, ela não conseguiu chegar à Universidade quando os filhos eram menores. “Por isso esperei tanto tempo. Mas ainda há tempo e eu quero fazer uma nova carreira.
Mesmo admitida depois dos 45, Renata afirma não ter se deparado com preconceito por causa da idade. “Eu nunca tive oportunidade de estudar. Hoje eu posso. Sempre trabalhei. Tive problemas de saúde por causa do esforço físico. Poder estudar, de forma mais tranquila, é uma alegria sem tamanho”. Em função dos anos de trabalho interruptos, ela teve problemas de coluna e hoje, além dos sonhos de futuro como bióloga, também carrega limitações em função de uma cirurgia de coluna.
Mãe e filha moram no Bairro Floresta. Acordam cedo juntas, na maior parte das vezes, e passam duas horas num ônibus, entre ida e volta. Comem no Restaurante Universitário. O que não falta ali é garra.
Com carteira de estudante, tem direito a meio passe, e a alimentação de baixo custo no Restaurante Universitário (RU), ajuda as duas a continuar os estudos enquanto esperam a tão esperada formatura. Depois pretendem entrar no mercado de trabalho e aí sim sentir o gosto do que ouviam por onde andavam. “É preciso estudar para ser alguém na vida”.
Renata e Júlia sempre foram alguém, independente do grau de instrução. Agora elas querem mesmo é ser mais do que alguém para a sociedade, mas sim fortalecer a autoconfiança como seres humanos e brasileiras que não fogem à luta.
As mulheres são maioria entre as pessoas com ensino superior completo, segundo os números brasileiros.
Em março deste ano, o Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a terceira edição do levantamento “Estatísticas de Gênero: Indicadores sociais das mulheres no Brasil”, revelando que as mulheres são maioria entre os brasileiros com ensino superior completo, representando 21,3% em comparação com os 16,8% dos homens.
Além disso, as estudantes têm uma taxa de frequência escolar maior do que alunos do gênero masculino, com 79,7% no ensino médio e 29% no ensino superior, enquanto os homens possuem 71% e 21%, respectivamente. Em 2022, as mulheres também eram maioria entre os matriculados em universidades no Brasil, representando 57,5% do total de 5,1 milhões de alunos. Entre os universitários prestes a se formar, elas correspondiam a 60,3% dos 803,6 mil alunos.
O relatório apontou que em 2022 o Brasil era o quarto país com menor percentual de mulheres com ensino superior, com 27,2%, cerca da metade da média Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que era de 53,8%.
O estudo do IBGE ressalta ainda que, apesar da vantagem das mulheres no acesso ao ensino superior, elas ainda enfrentam barreiras em áreas como Ciências Exatas e produção. A pesquisa destacou a presença feminina em cursos como Serviço Social, onde as mulheres representavam 91% dos alunos concluintes, e em Serviços Pessoais, com 83,8% dos universitários prestes a se formar.
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