Cacique Reginaldo (ao centro) frisou a importância da sensibilidade na ação do projeto, principalmente com os anciãos.
Lideranças indígenas de cinco territórios indígenas do Norte do Paraná se reuniram no dia 19 em um encontro do projeto “Redes Digitais e as Memórias dos Sábios Indígenas nas Escolas Estaduais no Norte do Paraná”. A reunião, que se deu no Centro de Educação, Comunicação e Arte (Ceca) da UEL, contou com caciques e representantes das terras de Laranjinha, Pinhalzinho, Apucaraninha, Barão de Antonina e Ywy Pora/Posto Velho.
O projeto teve início em 2013 e está em sua quinta edição na Universidade Estadual de Londrina. A equipe é composta pelos professores Mônica Panis Kaseker, do Departamento de Jornalismo; Flavia Carvalhaes, do Departamento de Psicologia Social e Institucional; Marcelo Silveira, do Departamento de Letras Vernáculas e Clássicas; pelo coordenador, Wagner Roberto de Amaral, do Departamento de Serviço Social, por sete alunos bolsistas e cinco alunos voluntários.
Segundo Wagner, a nova proposta tem o objetivo de eternizar e transmitir a cultura indígena às novas gerações. “Este projeto surge da compreensão que tivemos com as outras edições, da necessidade de ouvir esses sábios e sábias, sistematizar essas narrativas e transformá-las em conteúdo para as escolas”.
A proposta é colaborar com o fortalecimento da memória indígena através de uma articulação audiovisual com os sábios das comunidades. “A ideia é trabalhar esse conteúdo tanto para a divulgação dessas vozes nas redes sociais, tanto para as escolas, transformando em material didático para escolas indígenas e não indígenas”, explica o professor.
Os interesses da comunidade indígena foi representada pelos líderes presentes (Fotos: André Ridão/Agência UEL).
Segundo a Convenção n° 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho) sobre Povos Indígenas e Tribais, qualquer ação ou programa que concerne aos povos originários deve consultá-los previamente (obrigação estatal de consulta), para que a cooperação possa ser realizada. Para prosseguir com o desenvolvimento do projeto, as opiniões das lideranças foram ouvidas por todos os presentes.
O cacique Reginaldo Aparecido Alves, do território de Pinhalzinho, aponta que este é o momento de fortalecer as identidades indígenas e registrar as memórias desses povos. “Nós estamos num momento oportuno para termos o registro das memórias. Para nós, os mais velhos são bibliotecas vivas, mas até eles se vão. Os registros permanecem. Principalmente se os registros fazem com que a sociedade indígena quebre o preconceito construído pela sociedade”.
A luta da comunidade indígena não é apenas contra o colonizador moderno, mas também contra o tempo. Segundo Reginaldo, a importância do projeto também inclui construir vínculos com uma geração que se vê distante de suas raízes. “Nossos povos Guaranis e Kaingang vêm resistindo há mais de 500 anos de luta. A tecnologia vem competindo com os nossos conhecimentos tradicionais, mas ela também pode fortalecer a identidade, fazendo com que os jovens consigam compreender nossa cosmovisão a partir desses registros”, pontua.
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