Na inauguração, participaram autoridades dos governos do Brasil, Argentina e Paraguai. – Foto: Reprodução/Internet
De Fronteira Livre / Por Amilton Farias Nos últimos dias, Foz do Iguaçu, tem feito uma pergunta que ecoa entre entidades civis, movimentos democráticos e setores acadêmicos: onde está o Monumento da Democracia que ficava na Praça Naipi? A escultura, símbolo da luta latino-americana contra as ditaduras e em defesa dos direitos humanos, foi retirada por ordem do prefeito General Silva e Luna (PL), sem qualquer justificativa pública ou aviso à comunidade.
Segundo funcionários da própria Prefeitura, o monumento foi arrancado da base e colocado na carroceria de um caminhão, desaparecendo da paisagem da praça que o abrigava desde 2010, quando foi inaugurado em uma solenidade com a presença de importantes autoridades nacionais e internacionais.
O Monumento à Democracia nasceu de um projeto do então vereador José Carlos Neves, com o apoio do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular (CDHMP), presidido pelo jornalista e ex-preso político Aluízio Palmar, vítima da Operação Condor.
Da inauguração, participaram o então governador Orlando Pessuti, o diretor-geral brasileiro da Itaipu, Jorge Samek, o prefeito Paulo Mac Donald Ghisi, e os ministros dos Direitos Humanos do Brasil, Paraguai e Argentina, além de representantes do Mercosul.
Na inauguração, participaram autoridades dos governos do Brasil, Argentina e Paraguai. – Foto: Reprodução/Internet Indignação e cobrança pública
O monumento homenageava as vítimas da Operação Condor, uma aliança repressiva das ditaduras militares do Cone Sul nos anos 1970, responsável por prisões, desaparecimentos e assassinatos de cerca de 40 mil pessoas. O objetivo era perpetuar a memória dos que tombaram pela liberdade, como ressaltou à época o então ministro Paulo Vannuchi, ao afirmar que o memorial “não deixaria ninguém esquecer o quanto vale a democracia que se vive no Brasil”.
A retirada do monumento gerou forte reação de entidades da sociedade civil, historiadores e parlamentares. O Comitê Estadual de Memória, Verdade e Justiça do Paraná (CEMVEJ) e o curso de História da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) divulgaram nota pública conjunta repudiando a ação e exigindo transparência sobre o destino da escultura.
As vereadoras Yasmin Hachen (PV) e Valentina Rocha (PT) apresentaram requerimento oficial à Prefeitura pedindo explicações sobre quem autorizou a remoção, onde a peça se encontra e se há intenção de reinstalá-la.
Para os membros do Colegiado do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular de Foz do Iguaçu (CDHMP), o ato representa “um retrocesso e uma tentativa de apagar a memória histórica de Foz do Iguaçu, cidade que foi palco de episódios dolorosos da repressão política durante as ditaduras do Cone Sul”.
A remoção silenciosa do monumento contrasta com o espírito que motivou sua criação: o de preservar a memória para que o autoritarismo nunca mais encontre espaço. A escultura simboliza o compromisso de Foz com a verdade histórica, a liberdade de expressão e a defesa dos direitos humanos — valores essenciais à democracia e que não podem ser removidos como uma peça de concreto de uma praça pública.
Ao retirar o Monumento da Democracia, o prefeito Silva e Luna não apenas elimina um símbolo físico, mas fere a memória coletiva de uma cidade trinacional que sempre foi espaço de diálogo e convivência entre os povos.
“A democracia se constrói com memória, não com esquecimento”, diz a nota do CEMVEJ, ao lembrar que a destruição de símbolos públicos é também uma forma de violência política.
A cidade — que abrigou vítimas da Operação Condor e testemunhou a solidariedade entre povos latino-americanos — exige respostas.
Até o fechamento desta reportagem, a Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu não havia respondido aos questionamentos dos moradores. (30/10/2025 – 10:05)
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