O professor Luiz Roberto Ribeiro Faria Junior, autor principal da pesquisa, é docente do curso de Ciências Biológicas da UNILA (Foto: divulgação)
Uma das conclusões do estudo é que o chamado isolamento vertical – focado exclusivamente em idosos e pessoas dos grupos de risco – seria ineficaz para conter a pandemia do novo coronavírus em Foz do Iguaçu. O documento também pede cautela na reabertura de locais voltados para atividades de lazer, além de escolas e universidades. O relatório na íntegra está disponível em .
O estudo usa como base o modelo matemático epidemiológico SEIR-Net, que vem sendo muito utilizado ao redor do mundo para entender as dinâmicas da Covid-19. O modelo permite estudar alguns cenários de isolamento e distanciamento social, com foco em grupos específicos. Na pesquisa do GT da UNILA, os grupos foram divididos pela fração de cada faixa etária da população de Foz do Iguaçu.
O professor Luiz Roberto Ribeiro Faria Junior, autor principal do estudo, alerta que os resultados das projeções são qualitativos. “Como ainda não temos muitos dados de testagem, a definição dos parâmetros para uma análise quantitativa ainda é um pouco complicada. Mas, a análise qualitativa permite fazer comparações entre cenários de forma robusta”, explicou.
A principal conclusão do estudo é que o isolamento social deve ser a estratégia central para o controle da velocidade e da intensidade do pico de infecção pelo Sars-Cov-2. Pelas projeções realizadas, o cenário ideal de isolamento seria de, pelo menos, 70% em todas as faixas etárias. Essa é porcentagem de isolamento que seria capaz de mudar a dinâmica de infecções e achatar, de fato, a curva de contágio. Porém, o pesquisador salienta que isso não implica, necessariamente, que o isolamento deve ser de 70% em todas as faixas etárias. “Se houver uma redução mais significativa em algumas faixas etárias, pode haver uma certa flexibilização em outras. É possível que se chegue a uma redução global de 70% de diferentes formas”, explica.
Na comparação de alguns cenários, o estudo mostrou que se 20% dos adultos (25 a 59 anos) e 90% dos idosos, jovens e crianças de Foz do Iguaçu respeitassem o isolamento de forma rigorosa, haveria um ganho qualitativo em termos de tempo e tamanho do pico de infecção. Isso porque na cidade, a faixa etária de 25 a 59 anos representa quase 50% da população, segundo dados do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes).
Por conta da população jovem, a reabertura de escolas e universidades em Foz do Iguaçu deve ser uma decisão tomada com bastante cautela. “A decisão por reinserir fortemente tais faixas etárias na dinâmica de contágio da doença pode ter efeitos muito sérios. Um risco adicional é que, se as crianças forem em grande parte assintomáticas, o número de infectados poderá aumentar rapidamente”, explica Luiz Roberto Ribeiro Faria Junior.
O professor citou como exemplo um estudo francês, que mostrou que oito semanas de escola fechadas e 25% de teletrabalho para adultos, seria suficiente para postergar o pico da epidemia em quase dois meses, com redução aproximada de 40% na incidência de casos.
Outro dado que deve ser levado em consideração no momento de pensar políticas de combate à pandemia, é a população de idosos. Aproximadamente 7% dos moradores de Foz do Iguaçu têm mais de 60 anos e, por isso, o isolamento vertical, focado apenas nessa faixa etária, seria uma estratégia ineficaz. “Nesse tipo de isolamento, apenas uma parcela pequena dos suscetíveis seria retirada de forma mais forte da dinâmica da população. E a maior parte das interações sociais e, consequentemente, eventos de contágio, vai ocorrer entre crianças, jovens e adultos, que representam a grande maioria da população”, complementa o docente.
Além disso, as informações já existentes sobre a Covid-19 no Brasil mostram que a doença está longe de ser um risco apenas para idosos. No momento em que o relatório foi redigido, no final do mês de maio, 54 das 169 mortes confirmadas por Covid-19 no Paraná, eram de pacientes com menos de 60 anos, assim como duas das mortes registradas até o momento em Foz do Iguaçu.
O relatório ressalta, ainda, que curvas mais suaves e mais tardias não implicam em controle da doença, e sim no controle da velocidade e intensidade da curva. Para o professor Luiz Roberto Ribeiro Faria Junior, enquanto não houver um esquema vacinal eficiente, o SARS-CoV-2 seguirá sendo um problema grave de saúde pública.
“Quando se pensa com responsabilidade no número absoluto de mortos associados a percentuais relativamente “baixos” de mortalidade, em um contexto onde todos são suscetíveis, percebe-se que a imunidade de rebanho não é uma opção. Pelo menos não para quem valoriza minimamente a saúde e bem-estar das pessoas”.
“Os resultados são construídos através de discussões científicas, baseados em estudos de outros grupos de pesquisas ao redor do mundo e, também, obtidas de experiências com outras pandemias que já ocorreram no passado e, importante dizer, foram vencidas pela humanidade”, explica o coordenador do GT, professor Ricardo Hartmann.
Com os estudos, o GT pretende fornecer informações científicas à população de Foz do Iguaçu e auxiliar na tomada de decisões das autoridades do município. Entre os membros externos à UNILA estão os técnicos Mara Ripoli e Rodrigo Gaete. “A perspectiva de fazer projeções de casos e tentar entender o comportamento da pandemia demanda fazer uma discussão mais aprofundada e mais embasada sobre essas informações do municípios. Para além disso, um dos principais desafios do GT é ampliar as análises para a macro regional de saúde, bem como a região transfronteiriça”, disse Rodrigo.
Os interessados em entrar em contato com o grupo podem escrever para o e-mail ricardo.hartmann@unila.edu.br.
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