(Foto: Divulgação / Unila)
Uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), com sede em Foz do Iguaçu, está desenvolvendo um novo teste baseado na metodologia Elisa (do inglês Enzyme-Linked Immunosorbent Assay) para a detecção do Sars Cov 2, o vírus que provoca a covid-19. Em abril e maio, os kits foram padronizados e avaliados.
“Hoje a gente consegue dizer que o teste tem em torno de 95% de sensibilidade e 100% de especificidade”, diz o professor da UNILA e coordenador da pesquisa Kelvinson Fernandes Viana. O desenvolvimento do teste partiu de uma demanda do Hospital Municipal Padre Germano Lauck.
As informações sobre o novo teste e detalhamentos sobre como são produzidas as vacinas estão na entrevista que integra a nova temporada da websérie Fator Ciência, produzida pela Unila e dedicada ao tema coronavírus e suas consequências. Kelvinson Viana é mestre em Biotecnologia com ênfase em Bioprocessos e Tratamento de Doenças e doutor em Parasitologia, com ênfase em Imunopatologia.
O episódio está disponível no YouTube () e também em formato de podcast no Spotify ().
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Esses resultados – de 95% de sensibilidade e 100% de especificidade – foram alcançados “testando os verdadeiros positivos”, que são as pessoas que tiveram resultado positivo por meio do teste RT-PCR, que é um teste molecular. “São pessoas que realmente estavam infectadas com o Sars Cov 2”, afirma. Esses testes conseguem identificar o vírus e são de alta confiabilidade, mas têm de serem feitos no início da infecção, quando o vírus ainda está presente, explica Kelvinson.
O teste desenvolvido pela equipe do pesquisador também foi utilizado em amostras sorológicas de pessoas que tiveram dengue, influenza, e outras variantes de coronavírus. “O teste não dá reação cruzada com essas infecções e tem uma confiabilidade muito grande.”
Sobre os diferentes tipos de testes, Kelvison explica que, além do RT-PCR, que é um teste molecular, existem os testes sorológicos, que apresentam melhores resultados quando as amostras são colhidas após decorrido um período entre sete e dez dias após a infecção, uma vez que o vírus pode não estar no local da coleta.
São vários os tipos de testes sorológicos, esclarece Kelvison, incluindo o controverso teste rápido. “Não é só para a Covid, mas para outras doenças, o teste rápido tem o mesmo problema, uma dificuldade em detectar os verdadeiros positivos. São testes com baixa eficiência”, diz, lembrando que, para a Covid-19, esses testes apresentam uma série de problemas em todo o mundo.
“Alguns testes têm 25% de eficiência”, afirma, ressalvando que a bula informa que esses resultados chegam a 90% de sensibilidade e 95% de especificidade. “Na prática, a gente sabe que não é isso. São testes sorológicos de baixa qualidade.” A maioria desses testes, comenta Kelvinson, são produzidos na China.
Um outro teste sorológico é o Elisa “muito mais sensível e específico que o teste rápido”, explica. O resultado não é conhecido em 10 minutos, como no teste rápido, mas pode ficar pronto no mesmo dia, o que garante agilidade ao processo. Esse é o tipo de teste que está sendo desenvolvido pela equipe do pesquisador.
Os resultados do teste desenvolvido pela Universidade mostram uma quantidade de pessoas positivas para a covid-19 maior que o obtido pelos testes rápidos. Esses resultados estão sendo apresentados para a gestão municipal, mas ainda não constam das estatísticas, por questões burocráticas. De acordo com o professor, o teste ainda não passou pela validação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ele salienta, no entanto, que uma regulamentação do órgão permite os chamados testes in house – que é o que a Unila está fazendo.
Para ele, o resultado da pesquisa demonstra que o Brasil não precisa importar soluções. “Temos condições de desenvolver nossos próprios diagnósticos. Temos pessoas em diversas universidades que têm conhecimento para o desenvolvimento de teste molecular, de teste sorológico, entre outros, só que falta estímulo para isso”, destaca.
A Unila está iniciando, também, uma parceria com a Unioeste de Cascavel, cidade onde há muitos casos de Covid-19, para que os testes sejam utilizados nos pacientes daquela cidade. Os resultados serão comparados aos dos testes rápidos, que são da mesma marca dos utilizados em Foz do Iguaçu.
“Acredito que vai ser muito bom. O Brasil inteiro está com dificuldades com diagnóstico e o que se tem disponível, na verdade, é ruim. E se a gente consegue fugir disso com tecnologia nossa, isso é bom [para todos] que estão aprendendo a fazer esse procedimento, é bom para o serviço público, que consegue obter informações mais precisas, é bom para a instituição – a gente vê o quanto a Unila está inserida nesse enfrentamento aqui em Foz do Iguaçu, e isso vai ser expandido”, afirmou.
Além dos testes, uma outra questão que desperta a atenção de todos é a produção de uma vacina para a covid-19. Para o professor Kelvinson Viana, é possível que uma vacina esteja disponível ainda em 2020.
“Eu não duvido que até o final do ano tenha uma vacina licenciada, por causa da pressão econômica, mas as pessoas que trabalham com vacinas têm muitos questionamentos que nenhuma das empresas que estão testando são capazes de responder nesse momento”, comenta. “O tempo de análise é extremamente curto e não há como ter segurança de que a vacina realmente será eficaz.” Entre esses questionamentos, estão: por quanto tempo a vacina vai conseguir proteger, se uma pessoa que já foi infectada pode receber a vacina, ou se vai proteger contra possíveis mutações.
Ele explica que o processo para se chegar a uma vacina é longo – envolve anos de observações e experimentações –, tem muitas etapas que podem ser mais ou menos aceleradas com o uso de tecnologia, mas que não há como substituir o tempo de testes em humanos, o que está sendo feito de forma acelerada nesta pandemia (Kelvinson descreve todo o processo de desenvolvimento de vacinas na entrevista em vídeo).
O pesquisador lembra que mais de 120 vacinas contra a covid-19 estão sendo desenvolvidas pelo mundo, de diferentes formas. “Qual é o melhor tipo de vacina? A vacina boa é aquela que funciona”, diz, lembrando que o fato de dispormos de mais tecnologia hoje não garante resultados melhores. “A gente está em 2020 e, com toda a tecnologia que temos, nenhuma outra vacina conseguiu erradicar uma doença no mundo a não ser a vacina da varíola, que era feita de forma rudimentar. Hoje em dia, é uma forma impensável de fazer vacina, mas foi a única vacina que erradicou uma doença no mundo.”
Para Kelvinson, o Brasil tem condições de também desenvolver uma vacina. “O Brasil não está na corrida do desenvolvimento de uma vacina, mas tem dois grupos muito fortes trabalhando para o desenvolvimento de uma vacina nacional”, afirma. Entre as instituições envolvidas nessa produção estão a Fiocruz, Biomanguinhos, Faculdade de Medicina de São Paulo, Instituto Incor e a UFMG. Essa vacina deve estar pronta somente entre 2021 e 2022. “A tecnologia que está sendo utilizada não deixa nada a dever para as tecnologias que estão sendo desenvolvidas lá, fora, é tecnologia de ponta.”
A websérie Fator Ciência estreou no dia 8 de maio. Por conta do período de isolamento social, o programa está em novo formato e foi gravado a distância, por meio da plataforma Zoom. Os capítulos serão divulgados sempre às sextas-feiras. Assista a todos os episódios da série no canal da Unila no YouTube (https://www.youtube.com/unila) ou ouça no formato podcast no Spotify (bit.ly/unilacast)./
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