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Castanha do Brasil: é explorada principalmente por suas nozes conterem nutrientes e antioxidantes como magnésio, zinco, proteína e selênio. Sua colheita tem contribuído para a preservação de milhões de hectares de florestas amazônicas, razão pela qual é frequentemente chamado de pedra angular da conservação da Floresta Amazônica. – Foto: divulgação
Um novo relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura (disponível aqui, em inglês) da FAO, aumenta a conscientização sobre a necessidade de uso sustentável de plantas silvestres.
A agência destaca que vários produtos usados no dia a dia são produzidos com espécies como castanhas do Brasil, ou castanhas do Pará, na cozinha, goma arábica no refrigerante e alcaçuz no chá de ervas.
Agricultor em Savannakhet, Laos – UNDP Lao PDR/Tock Soulasen Phomm
Há ainda loções que contêm manteiga de karité ou produtos para a pele feitos com baobá ou óleo de argan. Incenso ou jatamansi também podem ser encontrados como ingrediente em perfume.
O documento da FAO, lançado para a celebração do Dia da Terra, ocorre em meio a um aumento na demanda global por ingredientes de plantas selvagens. Segundo o estudo, o crescimento foi de mais de 75% em valor nas últimas duas décadas.
O alerta da agência é para as milhares de espécies que estão em risco, principalmente devido à perda de habitat, mudanças climáticas e superexploração.
O argan obteve reconhecimento e proteção por várias entidades da ONU -© Oliver Migliore
Entre as espécies de plantas medicinais e aromáticas avaliadas, 9% são consideradas ameaçadas de extinção. O documento afirma que cerca de 1 bilhão das pessoas mais vulneráveis do mundo dependem deles para sua subsistência.
O diretor da Equipe de Produtos Florestais e Estatísticas da FAO, Sven Walter, destaca que o uso sustentável de plantas silvestres tem implicações críticas para a segurança alimentar e para milhões de meios de subsistência em todo o mundo.
Para ele, as plantas silvestres devem ser consideradas nos esforços para proteger e restaurar habitats, promover sistemas agroalimentares sustentáveis e construir economias inclusivas, resilientes e sustentáveis, principalmente à medida que os países trabalham na recuperação pós-Covid.
Uma mulher plantando uma árvore de carité em Gana para proteger as margens dos rios e para seu fortalecimento econômico. A manteiga de karité é consumida ou vendida para fins cosméticos – Ifad/Dela Sipitey
Segundo a FAO, as plantas representam cerca de 80% de toda a biomassa na Terra e desempenham um papel fundamental no apoio aos seres humanos e outros animais, fornecendo alimentos, remédios, oxigênio e abrigo.
Em algumas partes do mundo, as plantas silvestres são coletadas por populações vulneráveis, muitas vezes usando métodos tradicionais de plantio.
Enquanto isso, a FAO destaca que a demanda por ingredientes de plantas silvestres continua crescendo, especialmente nos países mais ricos.
Somente os consumidores nos Estados Unidos gastaram cerca de 11,3 bilhões de dólares em suplementos alimentares à base de plantas em 2020.
Os dados do estudo sugerem que a pandemia renovou o interesse no uso de espécies selvagens como ingredientes na medicina tradicional e moderna.
No geral, a estimativa é que até 5,8 bilhões de pessoas usem plantas selvagens ou semisselvagens em todo o mundo, de acordo com um estudo da Universidade de Rhodes, na África do Sul.
Para a FAO, apesar de sua onipresença, importância e das ameaças que enfrentam, os ingredientes extraídos de plantas selvagens muitas vezes escapam da devida atenção das empresas devido à falta de conscientização e rastreabilidade.
O relatório visa enfrentar esses desafios, fornecendo informações detalhadas sobre 12 produtos vindos de plantas selvagens. Confira:
Karité: Cresce em toda a África, do Senegal ao Uganda. Amplamente utilizado na indústria alimentícia como equivalente da manteiga de cacau, também é popular em cosméticos. Localmente, é usado como um óleo de cozinha saudável. Estado de conservação: vulnerável
Jatamansi: Planta perene e aromática que cresce no Himalaia, suas raízes são colhidas por suas propriedades medicinais. Estado de conservação: criticamente em perigo
Goma arábica: Esta espécie cresce na África e é usada principalmente nas indústrias alimentícia e farmacêutica como aditivo, emulsificante ou estabilizador. Estado de conservação: não avaliado
Goldenseal: Também conhecido como hydraste du Canada ou framboesa moída, esta espécie é nativa do leste da América do Norte e é usada principalmente para produtos medicinais. Estado de conservação: vulnerável
Candelilla: Encontrada no México e confinando partes dos Estados Unidos, a cera de candelilla era um ingrediente comum na goma de mascar. É utilizado como aditivo alimentar e em cosméticos e farmacêuticos, além de ceras e polidores industriais. Estado de conservação: não avaliado
Argan: Também conhecido como óleo marroquino, suas propriedades antienvelhecimento o tornam uma escolha popular entre os consumidores europeus e norte-americanos. Cresce na Argélia, Mauritânia, Marrocos e no território do Saara Ocidental. Estado de conservação: vulnerável
Baobab: A espécie é nativa da África continental. O pó de baobá é usado como ingrediente de alimentos e bebidas, enquanto seu óleo de semente é usado como ingrediente cosmético. Estado de conservação: não avaliado
Castanha do Brasil: colhida inteiramente na natureza, a árvore é explorada principalmente por suas nozes nutritivas e comestíveis, repletas de nutrientes e antioxidantes como magnésio, zinco, proteína e selênio. Sua colheita tem contribuído para a preservação de milhões de hectares de florestas amazônicas, razão pela qual é frequentemente chamado de pedra angular da conservação da Floresta Amazônica. Estado de conservação: vulnerável
Alcaçuz: Esta erva perene é nativa da Eurásia, norte da África e Ásia ocidental, e é usada principalmente para fins medicinais, como adoçante e na indústria do tabaco. Estado de conservação: menor preocupação
Juniper: Juniperus communis é uma espécie do hemisfério norte temperado e subártico. Suas bagas são um ingrediente chave na fabricação de gin. Eles também são usados como aromatizante de alimentos, óleo essencial, ingrediente em cosméticos e têm uma longa história de uso em medicamentos tradicionais e para fins religiosos. Estado de conservação: menor preocupação
O relatório está disponível para a indústria, consumidores, profissionais e investidores e detalha a preocupação com esses ingredientes preciosos – mas muitas vezes esquecidos – presentes no cotidiano.
Com o fornecimento responsável, esses ingredientes podem apoiar uma conservação mais ampla da vida selvagem e melhorar os meios de subsistência de algumas das pessoas mais marginalizadas do mundo.
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