A vida tal como a conhecemos requer fósforo, um dos seis principais elementos químicos da vida, que forma a espinha dorsal das moléculas de ADN e ARN, que atua como a principal corrente de energia em todas as células e ancora os lípidos que separam as células do ambiente circundante.O problema é que as reações químicas que fazem os blocos de construção dos seres vivos precisam de muito fósforo – mas o fósforo é escasso. Por isso, num novo estudo, os cientistas tentam responder à pergunta: como é que um ambiente sem vida no início da Terra forneceu este ingrediente-chave?De acordo com o estudo publicado esta semana na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, a vida na Terra pode ter surgido em lagos ricos em fósforo, uma vez que essas águas reúnem as condições necessárias para a o aparecimento de moléculas orgânicas.
Mas, antes de chegar a esta conclusão, os investigadores concentraram-se em lagos salgados, ricos em carbonatos, como ponto de partida. Este tipo de lago que existe em todo o mundo forma-se em ambientes secos, dentro de depressões que canalizam a água das áreas circundantes. As formações também são conhecidas como lagos alcalinos ou de sódio, porque as suas altas taxas de evaporação fazem com que as suas águas concentrem soluções salinas e alcalinas altas.Os cientistas analisaram o Lago Mono, nos Estados Unidos; o Lago Magadi, no Quénia; e o Lago Lonar, na Índia, descobrindo que esses depósitos ricos em carbonato têm níveis de fósforo até 50 mil vezes mais do que os encontrados na água do mar e noutros tipos de lagos. As concentrações apontaram para a existência de um mecanismo natural que acumula o elemento químico nesses corpos de água.Após análises em laboratório, os cientistas concluíram que a razão pela qual essas águas têm alto teor de fósforo é o seu teor de carbonatos.Na maioria dos lagos, o cálcio, que é muito mais abundante na Terra, liga-se ao fósforo para produzir minerais sólidos de fosfato de cálcio, aos quais a vida não pode aceder. No entanto, em águas ricas em carbonato, o carbonato ultrapassa o fosfato para se ligar ao cálcio, deixando parte do fosfato sem aderir.“Níveis extremamente altos de fosfato nestes lagos e lagoas teriam causado reações que colocavam fósforo nos blocos moleculares de ARN, proteínas e gorduras, todos necessários para a vida continuar”, explicou o co-autor do estudo, David Catling, em comunicado.
O ar rico em dióxido de carbono na Terra primitiva, há cerca de quatro mil milhões de anos, teria sido ideal para criar estes lagos e permitir que atingissem níveis máximos de fósforo. Lagos ricos em carbonato tendem a formar-se em atmosferas com alto dióxido de carbono. Além disso, o dióxido de carbono dissolve-se na água para criar condições ácidas que libertam com eficiência fósforo das rochas.“O início da Terra era um lugar vulcânico ativo, haveria muitas rochas vulcânicas frescas a reagir com dióxido de carbono e a fornecer carbonato e fósforo aos lagos”, disse Jonathan Toner, principal autor do estudo. “A Terra primitiva poderia ter hospedado muitos lagos ricos em carbonatos, que teriam concentrações de fósforo suficientemente altas para iniciar a vida”.Outro estudo recente destes autores, publicado em setembro na revista científica Geochimica et Cosmochimica Acta, mostrou que esses tipos de lagos também podem fornecer cianeto abundante para apoiar a formação de aminoácidos e nucleotídeos, os blocos de construção de proteínas, ADN e ARN. O cianeto é venenoso para os seres humanos – mas não para os micróbios primitivos – e é fundamental para o tipo de química que cria os blocos de construção da vida.
___________________________Reproduzido da página ZAP
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