UBS da Vila C Nova é uma das que recebem residentes do programa – Fotos: Moisés Bonfim
Um profissional que conheça bem o território em que atua e seja capaz de fazer articulações e proposições. Este é um dos perfis esperados pelos acadêmicos do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família, curso de pós-graduação oferecido pela UNILA que tem colaborado com o atendimento em Foz do Iguaçu. Criado para oferecer formação baseada no cuidado integral à saúde de todos os membros da família, o programa recebe, a cada ano, 12 novos residentes de seis áreas distintas. Profissionais que atuarão não apenas na Atenção Primária, mas também em serviços especializados e hospitalares. A seleção para a residência ocorre por meio do Exame Nacional de Residência (Enare) e os selecionados terão direito a bolsas financiadas pelo Ministério da Educação (veja abaixo).
Por ter duração de dois anos, na prática a pós-graduação mantém, no âmbito do Sistema Único (SUS), 24 residentes. Ao mesmo tempo em que reforçam os atendimentos em Foz do Iguaçu, tendo uma perspectiva voltada à promoção e à prevenção na área da saúde, eles conhecem as particularidades da atenção na região de fronteira trinacional. Anualmente, são oferecidas vagas a graduados em Enfermagem, Fisioterapia, Nutrição, Psicologia, Odontologia e Saúde Coletiva. Com exceção desses últimos, todos são inseridos nas equipes de Saúde da Família, atuando nas unidades básicas de Foz do Iguaçu. “Todos atuam com preceptores. Profissionais designados pela Prefeitura que fazem a supervisão desses alunos em campo”, explica a coordenadora da Residência, Geiza Lemos Hein Sant Anna. Já os graduados em Saúde Coletiva são inseridos, em maior grau, nas equipes de gestão.
Além das UBS, os futuros especialistas em Saúde da Família na modalidade Residência – título recebido ao final do curso – podem excepcionalmente atuar em serviços como o CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), Consultórios de Rua e em grupos de orientação e educação em saúde. O atendimento se estende também ao Programa Saúde na Escola (PSE), desenvolvido em conjunto pelas Secretarias Municipais de Saúde e de Educação.
Conforme Geiza, quando se trata de Estratégia de Saúde da Família (ESF), obrigatoriamente há uma vinculação à região em que este está inserido. Por esta razão, o Programa de Residência Multiprofissional da UNILA tem como diferencial justamente aproximar os residentes das especificidades sociais e culturais da fronteira. “Além disso, considerando o território, acho que o primeiro diferencial é a questão do desafio da implantação da Estratégia de Saúde da Família (ESF)”, contextualiza. Para ela, os residentes têm um papel ativo em relação à transformação desse cenário e à valorização da Estratégia no município. “Eles têm um papel com muita responsabilidade também”.
Preceptora – profissional responsável pela supervisão dos residentes de uma determinada área – a psicóloga Angela Gisele Cardin reforça a análise de Geiza. Em sua avaliação, além dos desafios culturais, o atendimento apresenta ainda especificidades típicas da região trinacional, como a população flutuante e até mesmo especificidades epidemiológicas. Como explicou, esse contexto é reconhecido no próprio Projeto Pedagógico Curricular da especialização, “o que faz com que o residente tenha uma formação com visão ampliada, crítica e transformadora, capacitada para lidar com realidades multiculturais e dinâmicas da fronteira”.
Conforme Angela, os residentes da sua área atuam vinculados às Unidades Básicas de Saúde (UBS) e integram as equipes multidisciplinares. Com isso, apoiam as equipes de Saúde da Família com acolhimentos, grupos, visitas domiciliares e ações de promoção em saúde. “A atuação do psicólogo residente no contexto da ESF/PSF insere-se quase que totalmente na Atenção Primária. Salvo quando o aluno se mostra interessado em conhecer outros equipamentos da RAPS [Rede de Atenção Psicossocial]”, comenta narra.
Graduada em Psicologia, a residente Vitória [na cabeceira, ao lado dos atendidos] atende crianças e idosos
Egresso de Saúde Coletiva pela UNILA (2012) e do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família (2016), o sanitarista Carlos Arenhart hoje atua como professor temporário no curso, além de ser tutor dos quatro sanitaristas pós-graduandos. Segundo o docente, cabe a eles desenvolver a integração das técnicas profissionais por meio do trabalho em gestão de Saúde da Família e contribuir com as equipes na ESF.
Além disso, os profissionais executam ações na área da Vigilância Epidemiológica. Seja na produção de boletins epidemiológicos, de doenças e agravos não transmissíveis, ou na contribuição e apoio ao Programa Municipal de Imunização. Nessa ação, além de terem uma visão ampla de Saúde da Família, os residentes adquirem bagagem para compreender as políticas e ações de saúde na fronteira e intervir se necessário. “A fronteira é muito desigual no acesso à saúde. Isso nos três lados. Nesse sentido, esse profissional vem contribuir bastante para o reconhecimento da defesa do direito à saúde”, contextualiza.
Esta ação de defesa dos direitos é corroborada até mesmo pela vocação natural da UNILA, avalia Arenhart, que vê a instituição como promotora do desenvolvimento regional no âmbito da saúde pública.
Enare é a ‘porta de entrada’ da Residência Desde 2024, a seleção para o Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família da UNILA é feita por meio do Exame Nacional de Residência (Enare), coordenado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), o que torna o curso mais democrático e abrangente.
Como analisa Geiza Lemos Hein Sant Anna – egressa do curso de Medicina da UNILA –, a opção por selecionar os residentes por meio deste processo ampliou a visibilidade da pós-graduação, que passou a ser conhecida nacionalmente. “Estamos trazendo profissionais de todos os cantos do Brasil para Foz Iguaçu. E isso envolve deixar uma família, deixar uma expectativa, um emprego para buscar o padrão ouro de formação”, comenta.
Segundo ela, ao mesmo tempo em que há o fortalecimento da pós-graduação, a maior visibilidade também apresenta o desafio da permanência estudantil, de acolhimento e de cuidado com o residente. Por esta razão, busca-se manter redes de cuidado e de apoio. Outro efeito da seleção pelo ENARE é o aumento na diversidade dos residentes, vindos de outras regiões, o que, na avaliação da médica, enriquece o programa.
Assine as notícias da Guatá e receba atualizações diárias.