O pensador brasileiro escreveu mais de 30 livros; “Geografia da Fome no Brasil” (1946) é sua obra mais famosa – Fundaj/Divulgação
No dia 5 de setembro, o médico e geógrafo Josué de Castro completaria 116 anos, se estivesse vivo. Escrita a partir da observação da população faminta do Recife, Geografia da Fome se tornou sua obra mais conhecida, tendo impacto nacional e internacional sobre a percepção deste problema. Para ampliar o conhecimento sobre Josué, a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) tem catalogado e digitalizado o acervo pessoal de fotos, cartas, manuscritos e artigos escritos pelo intelectual pernambucano.
Os arquivos em posse da Fundaj estão sendo catalogados e digitalizados para ficarem disponíveis online para pesquisadores e demais pessoas interessadas em conhecer mais sobre a vida e obra de Josué de Castro. São mais de 1,8 mil cartas enviadas, mais de 2 mil cartas recebidas, cerca de 6 mil recortes de jornais, 657 fotos, além de mais de 7,3 mil livros e fascículos de periódicos – destes, mais de 2,5 mil já estão disponíveis.
Márcia Ângela Aguiar, presidente da Fundaj, agradeceu aos familiares de Josué de Castro, que confiaram o acervo à Fundação. “Muito importante que este acervo esteja acessível à sociedade. Viabilizar este acesso é uma das nossas tarefas prioritárias”, destacou.
A proposta é que a Fundaj e a organização não-governamental Centro Josué de Castro (CJC) lancem publicações e promovam seminários focados no legado do geógrafo pernambucano.
O sociólogo José Arlindo Soares, que hoje preside o CJC, visitou a Fundaj na última quarta (4). “Está bem conservado. E o processo de digitalização e de abertura ao público está avançado. Tudo está em condições de ser apresentado ao público, especialmente os pesquisadores”, avaliou o presidente do CJC, pontuando ainda a importância de manter o acervo completo na região Nordeste.
Os arquivos em posse da Fundaj estão sendo catalogados e digitalizados para ficarem disponíveis online / Fundaj/Divulgação
Acervo entregue pela família tem mais de 1.800 cartas enviadas, mais de 2 mil cartas recebidas, 6 mil recortes de jornais, 657 fotos e mais de 7,3 mil livros e fascículos de periódicos / Fundaj/Divulgação
O CJC era responsável pela preservação do acervo até 2011, quando avaliou que não tinha condições de mantê-lo em condições adequadas e devolveu o material à família, que posteriormente buscou a Fundaj para cuidar do acervo. Mas parte do material ainda está em posse da família. Segundo José Arlindo Soares, também devem ser transferidos para a Fundação Joaquim Nabuco nos próximos meses. “É o local mais adequado”, pontua.
Historiadora e pesquisadora da Fundaj, Rita de Cássia Araújo conta que “a família reafirmou o compromisso de preservar a memória de Josué de Castro na terra onde ele nasceu e onde surgiram suas ideias matriciais sobre a fome, percebendo-a como fenômeno sócio-histórico”, destaca ela.
Araújo avalia que o intelectual “foi pioneiro ao identificar que a fome não é um problema de raça e meio, como se acreditava à época, e que não se limita geograficamente ao Nordeste, mas um fenômeno econômico e social que se alastra por diversas regiões do país e do mundo”, afirma. “Sua obra se mantém atual, pois promove reflexões sobre como o capitalismo se estrutura e conserva a desigualdade entre as nações”, completa a pesquisadora.
Josué Apolônio de Castro nasceu no Recife, em 1908, e formou-se em medicina aos 21 anos. Ele também foi geógrafo, cientista social, político e escritor, o principal nome brasileiro no combate à fome em seu período. Reconhecido internacionalmente, foi pioneiro no estudo da fome e da desnutrição, dedicando a vida à luta contra a escassez de alimentos e a injustiça social. Josué liderou a agência da ONU para agricultura e alimentação (FAO) e foi embaixador brasileiro na ONU.
Antes de sua morte, em 1973, o pernambucano escreveu mais de 30 livros, sendo Geografia da Fome no Brasil (1946) a sua obra mais famosa. Outro tema caro a Josué de Castro é a ecologia. Apoiador de métodos de educação popular, Josué foi parceiro de Paulo Freire e outros expoentes da intelectualidade local no Movimento de Cultura Popular, desmontado pela ditadura militar em 1964.
Assista: Como a ditadura silenciou as denúncias de Josué de Castro sobre a fome
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