A destruição ambienta ocorre por todo o Brasil sob os olhos da sociedade, que muitas vezes sente-se de mãos atadas para fazer algo. Foto: Labanca
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Nesse dia 15 (de junho) o mundo recebeu o comunicado amargo de que o jornalista inglês Dom Phillips e o indigenista brasileiro Bruno Pereira foram mais duas vítimas de um crime bárbaro, na selva amazônica. No dia 05 de junho, coincidentemente Dia Mundial do Meio Ambiente. Ambos fizeram sua última viagem de barco no Vale do Javari, situado entre Atalaia do Norte e Guajará, no oeste do Amazonas, e atracaram à morte.
Os detalhes sórdidos de suas mortes estão reservados aos mais próximos da investigação, mas já sabemos que foram baleados, mortos, esquartejados, queimados, e enterrados. Parte de seus pertences estavam submersos, assim como afundado está o barco que utilizavam. Não se fala em corpos, mas restos mortais. Aqueles que tanto lutaram pela floresta em pé, tiveram suas vidas ceifadas no silêncio da mata, quebrado com tiros…
Até o momento, os principais envolvidos no crime são dois pescadores, dois irmãos que acabaram com a vida de dois homens, duas famílias e todo o círculos que se formavam ao redor de suas vidas. Romperam o elo que tinham com os estudos dos povos indígenas, dos ribeirinhos. Destruíram o trabalho de quem dedicava suas vidas a salvar as outras. São dois assassinos confessos, mas esse é só o fio de uma longa meada que envolve um combo de pesca, caça, garimpo e desmatamento ilegal com tráfico internacional. Não estão sós, não estão desamparados. Não agiram por conta própria em defesa apenas de seus interesses. Isso é notório.
A morte de Dom e Bruno interfere na minha vida, na sua, nas de nossos filhos e eu posso provar! Basta pensar que o trabalho que ambos faziam era para preservar a Amazônia e que as interferências negativas na mata influenciam no ritmo dos Rios Voadores, por exemplo. Ação e reação. O assassinato de Dom e Bruno nos matou um pouco também. Assim como tem nos matado a cada indígena, ribeirinho e jornalista anônimos assassinados porque defendem a floresta.
Lembram do Bosque dos Macacos? Aquele pedaço de mata em área particular, em Foz do Iguaçu, que recebeu autorização para ser desmatado? E que além da área particular também avançaram na área pública? E que os macaquinhos ficaram todos desnorteados, na terra ‘limpa’ ? Pois não se esqueçam que só tomaram alguma providência depois que o fato já estava consumado! Depois que o estrago está feito, alguém levanta as nádegas da cadeira.
Passados dias do desaparecimento de Bruno e Dom e com a mídia internacional repercutindo a inércia do Estado, voaram para o local os chefes das instâncias máximas. E na hora da coletiva, no momento de ocupar os holofotes, esqueceram de sequer mencionar os ribeirinhos, os índios, que foram os primeiros que iniciaram as buscas. Justamente porque sabiam que não podiam contar com aqueles que oficialmente ocupam essas funções. No caso do Bosque dos Macacos, a medida de suspender a continuidade da obra só ocorreu porque vozes isoladas ganharam repercussão na mídia local e cita-se aqui este veículo, o H2FOZ.
Não devemos nos esquecer que há pessoas pagas, e muito bem para legalizar tais atos. Seja no Vale do Javari seja no Bosque dos Macacos, nas mais diversas partes do País, há funcionários (as) que recebem salários para protegê-los, para fiscalizá-los e nem sempre o fazem. Pior que os criminosos, é quem compactua, silencia-se, faz que não vê.
Há presidente, governadores, prefeitos, secretários, chefes, sub-chefes, diretores entre outras ‘patentes’. Vereadores que em vez de pedir quebra-molas deveriam fiscalizar as ações que colocam em risco nossas riquezas naturais. Deputados, federais e estaduais, senadores…. Juízes, promotores, procuradores, entre outros, todos eles que precisam apenas cumprir sua funções, pois estão com teto, água, luz, comida, transporte, telefonia, escola, saúde, tudo pago pelos contribuintes! Ah, há ainda as Forças Armadas!
Podem ser poucos os que fiscalizam, a máquina do Estado está quebrada, o espaço geográfico é muito grande em relação ao baixo número de mão-de-obra, mas quem está à frente desses cargos, ainda mais os comissionados, independente de como agem, o dinheiro cai na conta todo mês. E não é difícil de se duvidar que o tilintar faça ainda mais barulho caso essas autoridades permaneçam em silêncio.
A omissão de quem devia proteger o meio ambiente, mas que se acovarda ou se vende, faz com que os Dom e Bruno da vida paguem com a própria. Sobra para o morador indignado, o ativista solitário que recorre à mídia, para pedir socorro pelo Bosque dos Macacos ou Vale do Javari. Sobra inclusive para o jornalista que de tanto escrever sobre os problemas ambientais, os problemas sociais, em vez de noticiar, se transforma em notícia trágica, de uma morte anunciada, literalmente.
Texto reproduzido do portal H2Foz. Aida Franco de Lima é jornalista, professora e escritora. Dra. em Comunicação e Semiótica, especialista em Meio Ambiente. E-mail: aida.francodelima@gmail.com .
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