A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) alerta que, enquanto o avanço da vacinação reduz as mortes, o relaxamento das medidas de distanciamento social e a retomada de praticamente todas as atividades econômicas e das aulas presenciais fazem a variante delta do novo coronavírus ganhar força e se espalhar pelo território nacional. Com isso, diz a instituição, a semana que se encerra neste sábado (7) marca o fim da atual tendência de queda nos casos de covid-19 no país, após pouco mais de um mês de recuos. “O país baixou a guarda sem chegar a um patamar seguro”, argumenta o responsável pelo boletim Infogripe da entidade, Marcelo Gomes.
Mais contagiosa e resistente às vacinas, sobretudo às primeiras doses, a cepa identificada pela primeira vez na Índia começa a ganhar velocidade no Brasil. Até então, a variante dominante era a gamma, ou P1. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que nas próximas semanas a delta será a variante do novo coronavírus com maior prevalência no Brasil.
“O elevado patamar de risco de transmissão do vírus Sars-CoV-2 pode ser agravado pela maior transmissibilidade da variante Delta, em paralelo ao lento avanço da imunização entre os grupos mais jovens e mais expostos, combinado com maior circulação de pessoas pelo retorno das atividades de trabalho e educação. Nesse sentido, é importante refutar a ideia de que a vacinação protege integralmente as pessoas de serem infectadas e transmitir o vírus, o que pode se tornar um risco adicional com a nova variante de preocupação Delta”, alerta a Fiocruz.
O Brasil registrou hoje (6) mais 1.056 mortos por covid-19 num período de 24 horas. Com o acréscimo, o país chega a 561.762 vítimas do vírus desde o início da pandemia, em março de 2020. O último período teve notificação de 42.159 novos casos, totalizando 20.108.746 infectados, também desde março do ano passado. As informações são do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass).
Até o momento, o estado com maior número de casos registrados da variante delta é o Rio de Janeiro. Mais de 50% dos infectados pela delta identificados no país estão na região fluminense. Este fato pode ser responsável pelo aumento significativo nas internações de pessoas mais idosas e também dos mais jovens, que ainda não foram vacinados, naquele estado. Até o momento, apenas 21,57% dos brasileiros estão imunizados com duas doses das vacinas Pfizer, CoronaVac e AstraZeneca, ou com dose única da Janssen. A primeira dose foi aplicada em 52,69% da população.
A taxa de ocupação dos leitos de UTI para adultos segue melhorando. Entretanto, os números são preocupantes em muitas das capitais. Destaque negativo, novamente, para o Rio de Janeiro, conforme o Infogripe. Duas capitais estão com taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 superiores a 80%: Rio de Janeiro (94%) e Goiânia (94%).
Oito capitais estão na zona de alerta intermediário: São Luís (69%), Fortaleza (65%), Belo Horizonte (60%), Curitiba (67%), Porto Alegre (66%), Campo Grande (74%), Cuiabá (74%) e Brasília (61%).
Outras 16 capitais estão fora da zona de alerta: Porto Velho (40%), Rio Branco (26%), Manaus (59%), Boa Vista (58%), Belém (49%), Macapá (33%) e Palmas (49%), nas regiões Centro-Oeste e Norte. Teresina (50%), Natal (39%), João Pessoa (23%), Recife (34%), Maceió (21%), Aracaju (46%) eSalvador (44%), no Nordeste. Vitória (46%), São Paulo (45%) e Florianópolis (36%), no Sudeste e Sul.
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) divulgou hoje uma carta manifesto sobre a crise sanitária que abate o Brasil. O documento foi endereçado para parlamentares que compõem a CPI da Covid. Os cientistas criticam a má condução da pandemia pelo governo Jair Bolsonaro. Desde o início da pandemia, Bolsonaro negou a ciência, minimizou a doença, ridicularizou mortes, promoveu e incentivou aglomerações. Além disso, possivelmente prevaricou na compra de vacinas e divulgou uma série de mentiras sobre a segurança dos imunizantes e das máscaras. Mais ainda, a compra de vacinas tardia está envolta em uma série de escândalos de corrupção.
“Em um contexto de afronta à dignidade humana, no qual a proteção social da população não foi garantida, em que se morre de fome ou de covid-19, a sociedade civil organizada é quem tem canalizado as ações populares de solidariedade: quem tem fome, tem pressa”, afirmam os cientistas. “O País ainda é hoje o epicentro da pandemia da COVID-19 na América Latina (…) Apesar da tendência de queda, ainda temos uma alta taxa de transmissão da doença, o terceiro maior número de casos no mundo e a maior taxa diária de mortes, mesmo sem considerar a subnotificação. Além disso, alertam-se os riscos da variante Delta já em circulação no país, comprovadamente mais transmissível e potencialmente mais grave”, completam.
Por fim, a SBPC argumenta que “é imprescindível e urgente ampliar a aquisição das vacinas, fortalecer as campanhas de vacinação, além das demais medidas não-farmacológicas: uso de máscaras, restrição de circulação e mobilidade, oferecendo as condições concretas para dar à população o direito ao exercício do isolamento/distanciamento social, garantindo sua proteção e segurança, com auxílio emergencial digno. O Ministério da Saúde não tem investido na necessária testagem em massa da população como medida de vigilância e detecção de casos e contactantes”.
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