Cada áudio tem, aproximadamente, quatro minutos de duração e é acompanhado de sugestões de atividades para serem realizadas nas aulas de História ou em aulas interdisciplinares – Foto: Bruno Lima
. Para Vanessa, prevalece no modelo escolar brasileiro uma tendência eurocentrista, em que mitos não possuem caráter lógico-racional e são categorizados como elementos do campo das superstições. “Muito antes do surgimento da Filosofia, e com ela o uso da Razão (logos) para explicar essencialmente a vida, já existiam os mitos e os ritos como sistemas complexos de conhecimento, transmissão de saberes e formas de interpretar o mundo”, afirma.
A pesquisa está dividida em três partes. Nos dois primeiros capítulos, a autora propõe uma discussão teórica sobre o conceito de mito e o uso didático da narrativa mítica em aulas de História. O último capítulo é dedicado à apresentação da proposta da audioteca e sugestões de atividades pedagógicas com base no conteúdo dos episódios. O trabalho está disponível aqui.
Os quatro podcasts trazem narrativas de origem iorubá e indígena, sendo uma da etnia Guarani, e a outra da etnia Bororo. Cada áudio tem, aproximadamente, quatro minutos de duração e é acompanhado de sugestões de atividades para serem realizadas nas aulas de História ou em aulas interdisciplinares. Entre as propostas estão desenhos e pinturas, releituras, criação de textos, de roteiros e peças teatrais, produção de maquetes, cenários e recital de poesias.
A escolha da criação de uma audioteca, intitulada “Contos da terra”, vai em encontro à tradição oral dos povos originários. Por meio de efeitos sonoros, os áudios remetem a uma roda de “contação” de histórias, estimulando a imaginação dos ouvintes. “Ao ouvir os podcasts, gostaria que eles gerassem essas sensações de estarem na natureza, em volta de uma fogueira, remetendo a histórias contadas pelos mais velhos para as gerações mais novas, ancoradas na valorização da ancestralidade”, conta.
Os quatro podcasts trazem narrativas de origem iorubá e indígena, sendo uma da etnia Guarani, e a outra da etnia Bororo – Foto: montagem/Pixa Bay.
No episódio “Oxóssi da floresta”, por exemplo, os alunos são provocados a refletirem sobre o sincretismo religioso, resultado da associação de orixás a santos católicos. Também há uma sugestão de atividade sobre intolerância religiosa envolvendo charges e tirinhas de jornais. Já no episódio “Estrelas Bororo”, a proposta é que os estudantes pesquisem sobre o domínio da astronomia pela etnia Bororo e também montem uma encenação teatral com os elementos do mito indígena.
“As explicações míticas e religiosas, configuram as formas primeiras de explicação do mundo, vivas na experiência, na memória e na psique da humanidade desde o surgimento dos primeiros grupos sociais até agora, e por isso, a meu ver, deveriam ser mais presentes nos processos educativos”, conclui Vanessa.
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