A capa da revista: história é inspirada em 80 canções – Foto: Reprodução/A Viola Encarnada
A 2ª edição da HQ A Viola Encarnada: Moda de Viola em Quadrinhos, do artista visual Yuri Garfunkel, foi lançada pela Z Edições durante a III Feira de Quadrinhos Independentes Ogra, no final de 2024.
Publicada originalmente em 2019 pela extinta editora Red Clown, com apoio do ProAC, a HQ é inspirada nas narrativas de mais de 80 clássicos da música caipira, a partir do enredo de Chico Mineiro, tentando desvendar o mistério do assassinato desse vaqueiro e violeiro a partir das letras de outras canções do repertório de viola. A introdução foi escrita pelo violeiro, professor e pesquisador Ivan Vilela e a obra foi indicada ao prêmio HQ MIX na categoria Melhor Adaptação em 2020.
Em 2024, o livro foi aprimorado e reeditado para entrar no catálogo daZ Edições, ao lado de mestres dos quadrinhos nacionais como Laerte, Adão, Sieber, Fí e Ricardo Coimbra. Nesta edição, o leitor tem acesso aos QR Codes para ouvir as músicas abordadas no livro. A venda é feita pelo site: https://zstores.shop/collections/yuri-garfunkel
Yuri Garfunkel detalha que a ideia da HQ se formou ao longo de muitos anos ouvindo música caipira. De modo geral, e no gênero Moda de Viola principalmente, ele explica que as canções descrevem narrativas tão intensas que muitas músicas inspiraram filmes. “Mas até agora não conheço outra graphic novel feita a partir desse repertório. Entendi que era um trabalho que poucos poderiam pôr em prática, e mergulhei de cabeça. No final de 2017 eu já tinha clara a estrutura do roteiro, fui a uma palestra do Ivan Vilela e me apresentei a ele que se interessou imediatamente pelo projeto e começamos a trabalhar”, relembra.
Garfunkel conta que Vilela sugeriu que a história fosse além dos temas mais faroeste previstos inicialmente, com muito boi e bala. “Ampliamos o roteiro com a origem da viola, derivada de instrumentos mouros e vinda ao Brasil com as primeiras caravelas portuguesas, e com a construção da Viola Encarnada, protagonista da história. Para isso, busquei ajuda do Luiz Armando, da luthieria Trevo, que construiu efetivamente a viola em um mês! O Ivan também sugeriu outro desfecho para a HQ, que termina na cidade grande, completando todo o trajeto percorrido pela música caipira”, comenta Garfunkel.
Para saber mais sobre a produção ou adquirir o livro, os contatos são: garfunkelyuri@gmail.com // @yurisopa // facebook.com/yuri.sopa
Segundo Ivan Vilela, caipira é uma palavra muito antiga. Disse ele ao Jornal da USP, em 2019: “Nos anos 1500, a região onde hoje é a cidade de São Paulo já abrigava um povo diferente de suas matrizes europeias e indígenas, o caipira, fruto do encontro de portugueses com etnias indígenas presentes no litoral. O nome caipira vem do tupi caápir, ou aquele que corta o mato, que faz a monda (arranca o mato)”, escreve. Já a viola, como Vilela afirma, surgiu em Portugal por volta dos anos 1400 e foi largamente utilizada pelos mais humildes, encontrando no Brasil um novo lar, primeiramente nas mãos dos caipiras paulistas e dos moradores de antigas cidades como Recife, Salvador e Rio de Janeiro, onde permaneceu como um dos principais instrumentos até metade dos anos 1800. “O som da viola sempre soou Nordeste adentro desde que ela lá chegou, mas foi nas mãos dos caipiras que a viola ganhou voz quando começou a ser gravada em canções a partir de 1929”, informa, acrescentando que com o passar do tempo consolidou-se como um dos segmentos que mais vendeu discos no Brasil: a música caipira.
“E vejam que coisa incrível: depois de gravadas, essas músicas tornaram a história de gente humilde, de pequenos camponeses conhecida por todas as pessoas. A música caipira gravada inverteu uma constante onde a história registrada era sempre a da elite, dos reis, dos administradores e nunca a do povo simples”, ressalta. E pergunta: Como não nos lembrarmos da canção Asa Branca (de Luiz Gonzaga)? E das populações ribeirinhas da Amazônia que tanto narraram suas histórias em músicas locais? “No momento que os caipiras registraram seus romances no disco e este foi difundido pelas rádios, suas vozes se amplificaram e suas histórias passaram a fazer parte na nossa história que, segundo o poeta Ferreira Gullar, não se desenrola só nos gabinetes presidenciais, mas também nas ruas e nos quintais”, afirma Vilela.
Mas Vilela lembra que embora tratemos a música caipira genericamente como moda-de-viola, ela é, na realidade, um guarda-chuva que abriga diferentes ritmos como o cururu, o cateretê, a guarânia, a polca paraguaia, a querumana, o batuque caipira, o samba rural, a congada, o lundu, a toada e a própria moda-de-viola. “Todas cantando e contando histórias. O próprio cururu que surgiu como uma modalidade de desafio improvisado, quando entrou no disco manteve as carreiras, que são as rimas, mas transformou-se num romance, numa narrativa”, exemplifica. “Quem ainda não escutou um cururu como o Menino da Porteira ou um cateretê como A Moda da Mula Preta?
Yuri Garfunkel é artista visual, músico e educador. Autor dos romances gráficos A Viola Encarnada: modas de viola em quadrinhos, indicado ao prêmio HQMIX 2020 na categoria Melhor Adaptação, e A Outra Anita, sobre a trajetória da pintora Anita Malfatti, lançada em 2022 para o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922. Criador do Sopa Art Br, estúdio de artes visuais, ilustração e design, com mais de 10 anos de experiência em comunicação visual ligada à cultura.
Desenvolve seu trabalho a partir de pesquisas na união de linguagens artísticas, relacionando HQs com arte urbana, música e educação. Com quatro exposições criadas nesse conceito, circulou por galerias como Coletivo, Matilha Cultural e A7MA, parques e estações do Metrô de São Paulo, e expôs na Argentina, Itália e Espanha. Como músico, Yuri integra desde 2008 o grupo instrumental Kaoll, com o qual gravou 3 álbuns, realizou mais de 300 apresentações pelo Brasil e uma turnê europeia em 2014.
Em 2015 Yuri passou a integrar o grupo Pequeno Sertão de música caipira autoral, com quem lançou dois álbuns, em 2016 e 2021. Como educador, Yuri cria e ministra cursos e oficinas de desenho e criação artística com propostas adequadas para diferentes públicos, de crianças e terceira idade à profissionalização, com circulação no Estado de São Paulo pela rede do Sistema S e centros culturais.
SERVIÇO: 2ª edição do livro A Viola Encarnada: Moda de viola em quadrinhos – Yuri Garfunkel, Z Edições Venda: https://zstores.shop/collections/yuri-garfunkel
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