– Uma crônica de Larissa Usanovich –
Existem buracos no peito causados pela culpa da inocência e do medo de vomitar o que pensa. O grito entalado na garganta desde o primeiro dia em que colocamos o pé na rua e dilatamos os olhos, alma e mente para a realidade. Existe uma tristeza aqui dentro e só nós sabemos dela. Só o que se perguntam: Por quê? Só o que se perguntam o que acontece com quem morre de fome com quem amanhece no frio de uma calçada com metade dos salários mínimos com os cabeleireiros, pintores, camelôs, saltimbancos, pedreiros, professores, balconistas e vendedores Só os que se perguntam o que acontece com quem não se encaixa em buraco nenhum desse inferno Os que se questionam, quando deitam a cabeça no travesseiro e o silêncio cala fundo, são proprietários de uma tristeza tão particular e, ao mesmo tempo, tão comum São esses os sonhadores que nunca dormem e são esses os que têm a tristeza como mãe. Uma amiga me contou: daqui dois mil anos, a tristeza ainda fará parte dos livros de história. Assim como na minha, pesa na mente dela saber que o amanhã nunca melhora. Olhar para as pessoas na rua parece ser insignificante para quase todos que conheço mas pra quem pensa (na rua e nas pessoas), essa é a atitude mais desafiadora do dia. E o pior é saber que nossa tristeza descomunal não aparece nos outdoors Muito menos nos aparelhos nas telas onde o amor não basta, onde a criança não chora de fome e onde as mortes são naturais. No aparelho onde os preços são tudo e tudo é pouco pros corpos perdidos que lotam as cidades. É esse maldito aparelho a representação do caos, para nós. Mas mais do que isso, é pesado pensar nos dias que sempre, sempre são os mesmos. O que, de uma forma inexplicável, melhora o dia, o mês e o ano é saber que não sou consciente sozinha.
Larissa Usanovich é estudante secundarista em Foz do Iguaçu, Pr. O texto foi publicado na revista Escrita 40.
Assine as notícias da Guatá e receba atualizações diárias.