Escuto leve batida. Levanto descalça, abro a janela devagarinho. Alguém bateu?
Entra lua poesia antes dos astronautas: Gagarin da terra azul, Apolo XI que primeiro passeou solo lunar.
Lua que comanda os mares, a fúria dos vagalhões que vem morrer na praia. O banzeiro das pororocas.
Lua dos namorados, das intrigas de amor, dos encontros clandestinos. Lua-luar que entra e sai.
Lua nova, incompleta no seu meio arco. Lua crescente, velha enorme, fecunda. Lua de todos os povos de todos os quadrantes.
Lua que enfurece o mar e em chumbo, acovarda barcos pesqueiros. O barqueiro se recolhe.
O pescado volta às redes. O jangadeiro trava amarras. Gaivotas fogem dos rochedos.
Lua cúmplice. Lésbica lua nascente, andrógina — lua-luar. Lua dos becos tristes das esquinas buliçosas. Luar dos velhos. Das velhas plantas sentenciadas. Do sopro morto dos bordões, rimas, violinos.
Lua que manda na semeadura dos campos, na germinação das sementes, na abundância das colheitas.
Lua boa. Lua ruim. Lua de chuva. Lua de sol.
Lua das gestações do amor. Do acaso, do passatempo Irresistível, responsável, irresponsável.
Lua grande. Lua genésica que marca a fertilidade da fêmea e traz o macho para a semeadura. O fruto aceito — mal aceito: repudiado, abandonado, A semente morta lançada no esgoto. A semente viva palpitante deixada em porta alheia.
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