– Um conto de José Maschio –
Os velhos acordam cedo. Não precisam, mas acordam. Era velho e acordava cedo. Nem sabia a razão. Foi até a cozinha, colocou a água para ferver. Gostava do café forte, apenas uma pontinha de açúcar para quebrar o amargo da palha misturada ao pó. Era um hábito de anos, o café forte pela manhã a acompanhar o jornal diário. Velhos são cheios de manhas e hábitos. Ele não era diferente. Com a água no fogo, foi até a caixa de Correios pegar o jornal. Foi quando reparou: havia um pato no telhado. Sim, um pato no telhado. A experiência, de velho, indicou que era um pato macho. Branco, forte, inquieto, o pato parecia orgulhoso da proeza. Voara até o telhado. Com o jornal debaixo do braço, o velho parecia um francês com seu baguete no sovaco. Observou o pato. Não era um dos seus. O pato olhou para ele, caminhou sobre a cumeeira da casa e parecia indeciso. Não se decidia para que lado iria. É uma loteria, pensou o velho. O pato tinha alternativas. Poderia voar até o parque dos coelhos, até a horta ou descer no galinheiro. Só não podia descer no quintal da casa. Um pato lento e gordo, por mais valente, não teria chances com os cães. Seria presa fácil aos americanos, caçadores por natureza.
José Maschio é jornalista em Cambé, Pr.
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